Você provavelmente já viu as imagens: ruas alagadas, casas destruídas, pessoas sendo resgatadas de botes em plena Porto Alegre. A enchente no RS, em maio de 2024, foi uma das maiores tragédias climáticas da história recente do Brasil. Mas o que talvez ninguém tenha te contado ainda é o que ficou depois. Não na água, mas no silêncio. Nos balanços contábeis. Nas lojas fechadas. Nas contas atrasadas. Nos sonhos que secaram devagar.
Mais de um ano depois, 1 em cada 2 pequenos negócios do estado ainda não voltou ao normal. É isso que mostra a nova Pesquisa de Impacto 2025 do Sebrae: 46% das empresas afetadas conseguiram retomar as operações, mas 45% seguem em processo de reestruturação, 7% não conseguiram reabrir e 2% fecharam de vez.
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Uma tragédia econômica que ninguém vê nos noticiários
A enchente no RS virou manchete pelo rastro de destruição, mas desapareceu rápido da memória coletiva. Enquanto isso, milhares de pequenos empreendedores ainda estão tentando juntar os cacos. E muitos, sem qualquer tipo de apoio.
A pesquisa revela que 35% desses negócios não receberam ajuda alguma, e apenas 36% conseguiram algum tipo de auxílio público. Ou seja: mais da metade seguiu sozinha. E como reerguer um negócio sem capital, sem cliente e, muitas vezes, sem estrutura?
O peso dos números (e das histórias que eles escondem)
O levantamento do Sebrae escancara as dificuldades: 84% dos empreendedores não têm recursos próprios para reconstruir. Metade não conseguiu crédito. Em 30% dos casos, o faturamento segue muito abaixo do necessário para cobrir os custos. E 12% já consideram fechar as portas definitivamente.
Mas esses dados não são só estatística. São a papelaria da dona Lúcia que perdeu tudo e vende hoje pela internet, tentando manter os boletos em dia. É o food truck do Eduardo, que ficou três meses parado e agora vende no bairro vizinho, porque o antigo ponto ainda está inacessível. É o salão da Gabi, que reabriu só com metade dos espelhos — e ainda assim, cortando cabelo com sorriso no rosto.
O que impede a recuperação?
A enchente no RS atingiu a base da economia gaúcha: os pequenos e microempreendedores, que representam a maioria dos CNPJs ativos do estado. O problema não é só a água que entrou, mas o que ela levou: clientes, mercadorias, estruturas físicas e, principalmente, previsibilidade.
A demanda despencou para 79% dos negócios. Em 75% dos casos, o acesso aos estabelecimentos foi comprometido. Mais da metade (57%) perdeu todo o estoque, e 47% tiveram danos estruturais graves.
E a pergunta que fica é: como se reerguer assim? Como competir, crescer ou até sobreviver se o básico ainda falta?
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A reconstrução que vem da coragem (e da criatividade)
Apesar do cenário, muitos resistem. O Cais Embarcadero, em Porto Alegre, voltou a funcionar sem subsídios e viu o público aumentar 53%. A Lajeadense Vidros reergueu uma nova fábrica, duas vezes maior. A Gemelli Sorvetes, atingida três vezes, já funciona em uma nova planta. São histórias de persistência — mas também de exceção.
Para cada caso de superação, há dezenas que seguem no escuro. Sem luz, sem crédito, sem cliente. Mas não sem esperança.
Enchente no RS: Um apelo que não pode ser ignorado
Quando falamos de enchente no RS, não estamos mais falando só de água. Estamos falando de economia, dignidade, emprego. Estamos falando de um colapso que segue invisível aos olhos de quem não vive ali.
É preciso mais do que hashtags ou campanhas pontuais. É preciso política pública consistente, crédito acessível, assistência técnica, capacitação e, acima de tudo, um olhar humano e contínuo.
Porque a água secou. Mas a dor — e a luta — continuam.
Veja imagens de alagamentos no Centro de Porto Alegre
Cheia na esquina das ruas Vigário José Inácio e Voluntários da Pátria — Foto: Giulian Serafim/PMPA
Temporal no RS: registro de alagamento na Avenida Mauá — Foto: Eduardo Paganella/RBS TV
Enchente atinge a cidade de Porto Alegre, no Rio Grande do Sul, na sexta-feira, 03 de maio de 2024. — Foto: EVANDRO LEAL/ENQUADRAR/ESTADÃO CONTEÚDO
Temporal no RS: drone registra alagamento na região central de Porto Alegre — Foto: Carlos Goes/Arquivo Pessoal
Temporal no RS: alagamento na Avenida Conceição, em Porto Alegre — Foto: Reprodução/RBS TV
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