A Embraer (EMBR3), uma das maiores fabricantes de aeronaves do mundo, viveu um movimento de realização de lucros no início de setembro de 2025, com suas ações acumulando queda de cerca de 5% no período. Ainda assim, no acumulado do ano, o papel registra valorização de 58% e já vale quase cinco vezes mais do que no início de 2023, segundo dados do BTG Pactual. O recuo recente, portanto, é visto mais como ajuste técnico do que como mudança estrutural na tese de investimento.
De acordo com analistas do BTG, alguns fatores pontuais explicam a fraqueza momentânea da ação, mas nenhum deles altera os fundamentos da companhia. O cenário de longo prazo segue positivo, com melhora consistente em rentabilidade, crescimento da carteira de pedidos e otimismo em relação à expansão global da fabricante.
Competição no mercado internacional
Uma das notícias que repercutiu no setor foi a disputa pela venda de aeronaves regionais para a AirAsia, na Malásia. A Embraer e a Airbus travam concorrência direta, mas a novidade veio da inclusão da chinesa Comac no processo de licitação. Tradicionalmente restrita ao mercado doméstico da China, a entrada da Comac em uma disputa internacional gera pressão adicional sobre a Embraer.
Apesar disso, analistas ressaltam que a Airbus segue favorita, já que a AirAsia possui frota majoritariamente composta por aviões da fabricante europeia. Ainda assim, a participação da Embraer evidencia sua capacidade de competir em mercados estratégicos, mesmo em meio à intensificação da concorrência global.
Novos projetos e riscos tecnológicos
Nos Estados Unidos, a holding SkyWest Inc. anunciou investimento na startup Maeve Aerospace, que pretende desenvolver aeronaves regionais híbrido-elétricas. Embora a notícia tenha chamado atenção, especialistas avaliam que se trata de um projeto de baixíssima probabilidade de sucesso, já que lançar um novo modelo no setor aeronáutico exige grande investimento, histórico técnico e apoio de fabricantes consolidados — fatores que a Maeve ainda não apresenta.
Para a Embraer, esse tipo de notícia representa mais um “ruído de mercado” do que um risco imediato. Historicamente, diversas iniciativas alternativas surgem em períodos de maior rentabilidade no setor, mas poucas se consolidam.
Questões domésticas: greve e tarifas
No Brasil, a Embraer enfrentou notícias sobre uma greve em sua planta de São José dos Campos (SP), após impasse em negociações salariais. No entanto, a paralisação envolveu menos de 5% do quadro total de funcionários, sem impacto relevante na produção. A própria companhia destacou que a operação segue normal.
Outro ponto é a discussão sobre tarifas de importação de aeronaves e peças brasileiras, atualmente em 10% em alguns mercados. A Embraer tem pressionado governos para zerar essas tarifas, e a assinatura de novos contratos internacionais pode acelerar esse processo, beneficiando diretamente sua competitividade.
KC-390 e a expansão no setor militar
A Embraer segue avançando no setor de defesa com o cargueiro militar KC-390. Recentemente, a Força Aérea Portuguesa anunciou a compra de uma aeronave adicional, além de opções para dez unidades. A expectativa é de que outros países da Europa e até mesmo os Estados Unidos avaliem a aquisição do modelo, em meio a um contexto global de aumento dos gastos militares.
Para analistas, o KC-390 já é visto como um produto consolidado, e novos contratos devem apenas reforçar a relevância da Embraer nesse segmento.
Ruídos sobre a Avelo e a expansão nos EUA
Nos Estados Unidos, a Embraer fechou um contrato histórico com a companhia aérea Avelo, que encomendou 100 aeronaves da família E2. Embora parte do mercado tenha recebido a notícia com ceticismo, por se tratar de uma aérea jovem, especialistas lembram que o fundador da Avelo tem longa trajetória no setor, o que confere credibilidade ao acordo. Além disso, pedidos inaugurais de grande porte frequentemente envolvem riscos maiores, prática comum na indústria.
Produção e metas para 2028
O CEO da Embraer, Francisco Gomes Neto, afirmou em entrevista que a companhia espera atingir a marca de 100 aeronaves comerciais produzidas por ano até 2028. Para o BTG, essa meta é ambiciosa, considerando os atrasos de fornecedores globais — especialmente fabricantes de motores. As projeções dos analistas apontam para 97 aeronaves no período, número próximo à meta oficial, mas ainda visto como conservador.
Efeito do câmbio na ação
A recente valorização do real frente ao dólar também é apontada como fator de pressão sobre as ações da Embraer. Tradicionalmente, investidores enxergam o papel como uma forma de hedge cambial, já que a companhia tem receitas fortemente dolarizadas. Assim, quando o real se fortalece — como aconteceu em setembro, quando a moeda atingiu R$ 5,30 —, parte do mercado realiza lucros.
Ainda assim, os fundamentos da companhia continuam sólidos, com expectativa de aumento do lucro líquido e expansão das margens nos próximos trimestres.
Desempenho financeiro e projeções
Os números recentes da Embraer reforçam o otimismo de longo prazo. O relatório do BTG traz as seguintes estimativas:
Indicador (US$ milhões) | 2023 | 2024 | 2025E | 2026E | 2027E |
---|---|---|---|---|---|
Receita | 5.269 | 6.395 | 7.459 | 8.155 | 8.821 |
EBITDA | 526 | 733 | 854 | 965 | 1.058 |
Lucro Líquido | 164 | 383 | 282 | 415 | 466 |
Além disso, o P/L projetado para 2026 é de 25,8x, enquanto o EV/EBITDA deve recuar para 12,7x, refletindo expansão da lucratividade. O dividend yield, ainda modesto, deve alcançar 1,5% em 2027.
Embraer (EMBR3) continua atrativa
Apesar da volatilidade de curto prazo e das pressões cambiais, a Embraer mantém uma posição sólida no mercado global. A diversificação entre aviação comercial, defesa e executiva, aliada ao crescimento robusto da receita e à carteira de pedidos consistente, sustenta a visão de que EMBR3 continua sendo uma das principais oportunidades da Bolsa brasileira.
Para o BTG Pactual, a recomendação segue em compra, com preço-alvofaça de R$ 104,00, representando potencial de valorização superior a 35% frente à cotação atual de R$ 76,80.