O dólar comercial iniciou 2024 em torno de R$ 4,94, mas rapidamente subiu para cerca de R$ 5,80 em novembro. Essa diferença de quase R$ 1 ao longo do ano acentuou as pressões inflacionárias, especialmente em setores como alimentação, vestuário e combustíveis, e preocupa economistas e consumidores.
“Um real inteiro de aumento é uma pancada. O impacto no preço dos alimentos é rápido e no custo das empresas também, que acabam repassando para a população de qualquer forma”, afirma Roberto Padovani, economista-chefe do Banco BV. Mesmo que a cotação do dólar oscile, os aumentos nos preços dos produtos de consumo diário, como alimentos e vestuário, são efeitos que permanecem.
Produtos e Setores Mais Afetados pela Alta do Dólar
A desvalorização do real em relação ao dólar tem um impacto direto no poder de compra dos brasileiros. Muitos itens do dia a dia, como produtos importados e insumos industriais, são negociados em dólar, o que acaba elevando os preços em reais. Essa variação afeta desde alimentos como soja e carne, que são commodities negociadas internacionalmente, até produtos importados, como perfumes, vinhos e até roupas.
📊 Descubra as ações que pagam dividendos constantes. Acesse a Carteira BTG agora!
De acordo com André Almeida, gerente do índice de inflação IPCA no Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o repasse dos custos ocorre de forma contínua e depende da decisão dos produtores e empresários. “As empresas estão sempre atentas a essa variável, porque é uma decisão importante para o negócio. Seja um aumento gradativo ou abrupto, o impacto será minimizado de alguma forma para os consumidores”, explica Almeida.
No setor alimentício, o IBGE destacou que produtos de exportação, como carne, café, feijão e arroz, têm registrado aumentos superiores ao índice geral de inflação. Por exemplo, a carne de porco acumula uma alta de 7,71% no ano, enquanto o café aumentou 29,94%. Esses aumentos afetam diretamente o custo da cesta básica e elevam o índice de preços ao consumidor.
Ano | Janeiro | Dezembro | Amplitude no ano (R$) | Variação (%) |
---|---|---|---|---|
2024 | R$ 4,94 | R$ 5,73* | 1,04 | 18,25% |
2023 | R$ 5,32 | R$ 4,87 | 0,78 | -8,21% |
2022 | R$ 5,71 | R$ 5,30 | 1,14 | -5,10% |
2021 | R$ 5,10 | R$ 5,42 | 0,98 | 7,24% |
2020 | R$ 4,09 | R$ 5,49 | 1,96 | 29,22% |
* Até 10 de novembro de 2024.
Fonte: Banco Central, Investing.com
Efeitos da Alta do Dólar em Outros Setores
Além dos alimentos, o aumento do dólar também se reflete no preço de produtos como combustíveis, vestuário, eletrodomésticos e até viagens internacionais. A gasolina e o etanol, por exemplo, são commodities diretamente afetadas pelo câmbio, o que significa que um dólar mais forte tende a elevar o custo dos combustíveis no Brasil.
🎯 Pronto para investir com inteligência? Baixe a seleção de Small Caps de novembro!
Para as famílias brasileiras, isso significa que o custo de vida aumenta, pressionando o orçamento doméstico e reduzindo o poder de compra. “A inflação vai deteriorando o poder de compra. Ela pode até desacelerar, mas não volta ao nível de um ano atrás”, alerta Padovani.
O Que Acontece se o Dólar Chegar a R$ 6?
Especialistas e analistas de mercado já começam a prever um cenário em que o dólar possa alcançar R$ 6, principalmente em 2025. Segundo o economista-chefe do Banco BV, essa projeção se fortalece após a vitória de Donald Trump nas eleições dos EUA. Trump, ao longo de sua campanha, prometeu adotar políticas que fortalecem o dólar no mercado global, o que acaba impactando moedas de países emergentes, como o real brasileiro.
No entanto, conforme alerta André Almeida, do IBGE, a marca de R$ 6,00 é mais psicológica do que econômica. “O fato é que o real mais desvalorizado influencia diretamente os preços de forma inflacionária. Agora, o nível desse impacto só pode ser mensurado depois que acontece,” explica Almeida.
Para Padovani, a expectativa para o câmbio em 2025 é de uma média entre R$ 5,80 e R$ 5,90, mas ele reconhece que o cenário global pode impulsionar o valor do dólar para além desse intervalo. Com um dólar mais caro, empresas e produtores terão de enfrentar custos de produção mais altos, o que deve impactar diretamente os preços para o consumidor final. Em um cenário de dólar a R$ 6, a pressão sobre a inflação pode se intensificar ainda mais.
Quer rentabilidade estável? 💰 Acesse as melhores opções de FIIs gratuitamente!
Como a Economia Brasileira Pode Responder?
O governo brasileiro e o Banco Central podem adotar políticas fiscais e monetárias para mitigar o impacto de um dólar mais caro. No entanto, o próprio Banco Central já sinalizou que controlar o câmbio é uma tarefa desafiadora, especialmente em um contexto de incertezas econômicas globais e políticas externas que afetam diretamente o dólar.