A recente deflação de alimentos pode afetar supermercados de todo o Brasil de forma significativa. A avaliação é do banco JPMorgan, que alerta para uma possível desaceleração nos lucros do setor varejista alimentar, principalmente no modelo de atacarejo.
Os últimos dados econômicos mostram uma queda acentuada nos preços de produtos essenciais como arroz, feijão, milho e batata. Embora proteínas e bebidas, como o café, ainda mantenham certa pressão inflacionária, o movimento geral é de recuo nos preços, o que afeta diretamente o tíquete médio dos consumidores.
Essa tendência preocupa especialmente as redes como Assaí (ASAI3) e Grupo Mateus (GMAT3). Embora ambas tenham mantido recomendação neutra pelo JPMorgan, os analistas apontam que a deflação de alimentos pode afetar supermercados de maneira desigual, com o Assaí sendo mais sensível devido à sua estrutura mais alavancada.
Efeitos da deflação sobre desempenho financeiro
O impacto da deflação não se limita à receita bruta. Com a queda de preços, o tíquete médio nas lojas também tende a cair. No atacarejo, onde margens já são apertadas, essa redução pode representar uma ameaça real ao lucro. Segundo o JPMorgan, para cada 1% de queda no tíquete médio, o lucro por ação (EPS) do Assaí pode cair 8%, contra 3% para o Grupo Mateus.
Além disso, a deflação de alimentos pode afetar supermercados dificultando o crescimento nas vendas de mesmas lojas (SSS), pressionando resultados operacionais. A percepção de inflação no setor atacadista é maior do que os índices oficiais, o que estimula o comportamento de trade-down — migração para marcas mais baratas ou volumes menores.
Quem está mais preparado?
O Grupo Mateus, terceiro maior varejista alimentar do país, é visto como mais resiliente. Com forte atuação no Norte e Nordeste e uma estrutura de capital mais leve, a empresa tem uma estratégia multiformato e um modelo híbrido de atacado e varejo. Além disso, possui presença relevante em mercados com menor concorrência.
Por outro lado, o Assaí continua com forte marca nacional, mas enfrenta desafios adicionais. Sua redução de investimentos em capex e o ritmo mais lento de expansão refletem a necessidade de ajuste no seu nível de endividamento, ainda que o cenário de juros mais baixos favoreça sua recuperação.
Indicadores de tendência
Segundo o relatório, o IPA agrícola — um dos principais indicadores antecedentes da inflação de alimentos — caiu 5% em junho. A base de comparação mais elevada para carne bovina e o recuo nos preços do frango indicam que a tendência de deflação de alimentos pode afetar supermercados também no segundo semestre.
O rastreador de preços do próprio banco indica nova deflação para julho, sugerindo que o cenário continuará pressionando os resultados das redes de varejo alimentar ao longo de 2025.
O que esperar para os próximos meses?
O ambiente competitivo tende a se intensificar, principalmente com a possível deslistagem do Carrefour Brasil. Com menos players na bolsa, a atenção dos investidores se voltará ainda mais para os resultados operacionais de empresas como Assaí e Grupo Mateus.
A deflação de alimentos pode afetar supermercados de formas diferentes, e os investidores devem observar não apenas indicadores financeiros, mas também a estratégia de gestão, capital de giro, dependência de incentivos fiscais e o posicionamento competitivo em cada região.