Um ex-assessor do Banco Central da China, Liu Shijin, propôs a emissão de títulos do tesouro de ultra-longo prazo para gerar um estímulo de 10 trilhões de yuans (equivalente a US$ 1,4 trilhão), com o objetivo de impulsionar a economia chinesa e enfrentar as pressões deflacionárias que ameaçam a recuperação do país. Segundo Liu, a China precisa de uma abordagem estratégica que inclua o fortalecimento de proteções sociais, a aquisição de apartamentos não vendidos para habitação acessível e a aceleração da construção urbana, como relatado pelo jornal Securities Times.
O Contexto Econômico da China
A proposta de Liu surge em um momento em que a China enfrenta preocupações crescentes de deflação, um fenômeno que pode causar um ciclo de queda nos preços, salários e consumo. Dados recentes mostram que o Índice de Preços ao Consumidor (CPI) da China registrou um aumento de apenas 0,6% em agosto em comparação ao ano anterior, impulsionado principalmente pelos preços de alimentos devido ao clima desfavorável, e não por uma recuperação consistente na demanda doméstica. O núcleo da inflação, que exclui alimentos e energia, caiu para 0,3%, marcando a leitura mais baixa em três anos e meio.
Além disso, o Índice de Preços ao Produtor (PPI) apresentou uma queda de 1,8% em agosto, acelerando a partir de uma queda de 0,8% no mês anterior. Essa tendência deflacionária preocupa analistas e pode prejudicar o crescimento econômico, impactando negativamente salários e lucros das empresas, conforme alerta o banco de investimento Morgan Stanley.
O Papel do Estímulo de US$ 1,4 Trilhão
A proposta de estímulo de US$ 1,4 trilhão é vista como uma tentativa de evitar que a China entre em um período prolongado de estagnação econômica semelhante ao enfrentado pelo Japão nas décadas de 1990 e 2000. A emissão de títulos do tesouro de longo prazo seria uma forma de financiar investimentos em infraestrutura, habitação e programas sociais, proporcionando um impulso direto ao consumo e à demanda interna.
Liu Shijin enfatizou que a China não deve seguir o caminho das políticas de flexibilização quantitativa adotadas por economias desenvolvidas, como os Estados Unidos e a Europa. Em vez disso, ele propõe medidas que garantam estabilidade e equilíbrio durante a fase de crescimento em “velocidade média” da China. A ideia é que o estímulo seja direcionado para setores que podem gerar um impacto positivo duradouro, evitando o risco de inflar bolhas de ativos e aumentando a eficiência do investimento.
Pressões Deflacionárias e Desafios para o PIB Chinês
O governo chinês estabeleceu uma meta de crescimento de 5% para o PIB em 2024, mas a ameaça de deflação torna esse objetivo cada vez mais desafiador. Dados de agosto indicam que a recuperação da China, tradicionalmente impulsionada pelas exportações, permanece frágil. A demanda doméstica continua a lutar para ganhar tração, enquanto os preços ao consumidor refletem uma tendência de desaceleração.
Analistas acreditam que a pressão deflacionária, se não for contida, pode desencadear um ciclo vicioso de queda nos preços, redução de receitas corporativas e, eventualmente, perda de empregos. Morgan Stanley alerta que, sem uma intervenção significativa, a China pode enfrentar dificuldades em atingir sua meta de crescimento econômico e pode ver seu mercado imobiliário, um dos setores mais críticos para a economia, entrar em um declínio ainda mais acentuado.
Possíveis Impactos Globais do Estímulo de US$ 1,4 Trilhão
A proposta de estímulo econômico da China não é apenas relevante para o país, mas também para a economia global. Como uma das maiores economias e parceiros comerciais do mundo, as políticas adotadas por Pequim têm implicações diretas para outros países. A atual batalha da China contra a deflação já está exportando pressões desinflacionárias para os Estados Unidos e a zona do euro, reduzindo a inflação nesses mercados em cerca de 0,1 ponto percentual.
Com a expectativa de que os bancos centrais ocidentais possam iniciar ciclos de corte de taxas de juros, a influência da China sobre as tendências inflacionárias globais se torna ainda mais significativa. Um pacote de estímulo de US$ 1,4 trilhão poderia injetar uma nova dinâmica na economia mundial, impulsionando o comércio e os investimentos, mas também alterando o equilíbrio de forças nos mercados de commodities e câmbio.
Reação do Mercado e Próximos Passos
Até o momento, a proposta de estímulo de US$ 1,4 trilhão ainda não foi oficialmente adotada pelo governo chinês, mas especialistas acreditam que Pequim está avaliando cuidadosamente as opções disponíveis para evitar uma desaceleração mais acentuada. Os mercados financeiros globais aguardam com atenção as decisões do governo chinês, já que qualquer movimento de estímulo substancial pode influenciar as taxas de câmbio, o comércio internacional e o ritmo de crescimento em diversas regiões.
Se implementada, a proposta de estímulo de US$ 1,4 trilhão teria um papel crucial em sustentar a economia chinesa e em evitar uma espiral deflacionária, permitindo que o país alcance sua meta de crescimento de 5% e fornecendo um alívio para os setores mais impactados pela recente desaceleração.
A Batalha da China Contra a Deflação e Seu Impacto Global
A proposta de um estímulo de US$ 1,4 trilhão destaca a urgência da China em combater a deflação e revitalizar sua economia. No entanto, a implementação desse pacote não está isenta de riscos e incertezas. O desafio será garantir que os fundos sejam direcionados de forma eficaz para setores que possam gerar crescimento sustentável, sem criar novas bolhas ou exacerbar os desequilíbrios existentes.
Enquanto o mundo observa, a estratégia de estímulo da China pode servir como um teste crítico para entender como as grandes economias lidam com os perigos da deflação e como isso pode influenciar o cenário econômico global nos próximos anos.