Uma nova era nas transações comerciais internacionais se desenha com o Brasil realizando sua primeira operação utilizando uma CBDC (Moeda Digital de Banco Central). Nesse marco histórico, o Banco da China Brasil SA e a Eldorado Brasil, uma proeminente empresa de produção de celulose, estão na vanguarda, estabelecendo um precedente notável ao completar uma transação que envolveu a exportação de produtos para a China.
Desdolarização e Pagamentos Digitais entre Nações
Essa operação representa um passo significativo em duas frentes cruciais que têm ganhado destaque tanto na China quanto no grupo dos Brics: a desdolarização das economias e o avanço dos pagamentos digitais entre nações. O uso do Yuan Digital, que a China vem ativamente desenvolvendo desde 2022, é um pilar fundamental desse movimento.
No ano passado, durante os primeiros testes de pagamentos internacionais com a CBDC chinesa, aproximadamente US$ 22 milhões foram transacionados por meio do projeto m-Bridge, que envolveu bancos centrais da China, Hong Kong, Tailândia e Emirados Árabes Unidos e teve a participação do BIS (Banco de Compensações Internacionais).
Brasil e China Firmam Parceria Estratégica
Fontes ligadas ao governo brasileiro já haviam sinalizado, em março, que o Yuan Digital seria adotado em transações internacionais entre o Brasil e a China. Esta parceria comercial estratégica implica que transações entre as nações agora serão conduzidas em Yuan, em contraposição ao dólar americano.
Além disso, em fevereiro do mesmo ano, o Banco do Povo da China, o banco central chinês, e o Banco Central brasileiro assinaram um memorando de entendimento (MOU) com o objetivo de viabilizar acordos que permitam o comércio entre os dois países a ser feito na moeda chinesa.
Um Novo Marco na Operação Brasil-China
No caso da transação envolvendo o Yuan Digital, os produtos da Eldorado Brasil foram enviados do porto de Santos para o de Qingdao em agosto. As operações financeiras foram concluídas com sucesso no final de setembro, incluindo a conversão dos valores em Reais para pagamento ao fornecedor nacional.
Essa operação pioneira com o Yuan Digital foi amplamente comemorada na China, marcando a primeira vez que a moeda digital chinesa foi usada no continente americano. A notícia dominou os principais veículos de comunicação em Singapura, China e Taiwan, além de ser destaque na rede de televisão CCTV e no Weibo, com diversos membros do governo comentando sobre esse feito histórico.
Outras Empresas Brasileiras Seguem o Caminho
Após o sucesso da Eldorado Brasil, outras empresas nacionais já anunciaram seus planos de realizar operações com o Yuan Digital em um futuro próximo, incluindo gigantes como Suzano e Petrobras. Essa demanda por pagamentos em CBDC é impulsionada pelos próprios importadores chineses, que mostram um crescente interesse em realizar transações utilizando moedas digitais.
O Caminho para o Drex
Essa operação com o Yuan Digital abre caminho para o Drex, a moeda digital do Brasil, tornar-se uma forma de pagamento viável para operações internacionais entre nações. Embora o Drex seja considerado uma CBDC de atacado, o Banco Central do Brasil não exclui a possibilidade de seu uso em pagamentos internacionais entre empresas.
Atualmente, o Drex está em fase de testes no Brasil, com a primeira versão oficial prevista para ser lançada no segundo semestre de 2024. No entanto, é importante notar que questões de interoperabilidade entre diferentes CBDCs ainda estão sendo avaliadas, já que os Bancos Centrais não definiram completamente a tecnologia a ser adotada.
No caso do Yuan Digital, ele não utiliza tecnologia blockchain, uma vez que essa abordagem não se adequaria ao volume de transações previsto. Em contraste, o Drex ainda não definiu uma tecnologia completamente, embora os testes atuais estejam ocorrendo na blockchain Hyperledger Besu, baseada no Ethereum EVM. A privacidade e a segurança desse sistema estão em foco.
Protocolos de Interoperabilidade em Desenvolvimento
Diversas instituições, empresas e organizações multilaterais estão trabalhando em protocolos de interoperabilidade entre CBDCs. SWIFT, BIS, FMI e Visa já realizaram provas de conceito bem-sucedidas que permitem a troca direta de CBDCs em blockchains públicas e privadas, abrindo um mundo de possibilidades para o futuro das transações comerciais internacionais.