Por que o Brasil, com o dobro de gado, ainda produz menos carne que os EUA?

Apesar de ter o dobro do gado, o Brasil produz menos carne que os EUA. Entenda as razões de produtividade que explicam essa diferença.
Brasil produz menos carne que os EUA

À primeira vista, os números parecem um paradoxo. O , dono do segundo maior rebanho bovino do mundo, contabilizou em 2024 cerca de 238,2 milhões de cabeças de gado. É quase três vezes mais do que os 86,7 milhões do rebanho norte-americano. Ainda assim, quando se olha para a produção de carne, a história muda de lado: os Estados Unidos produziram entre 11,6 e 12,3 milhões de toneladas de , superando o recorde brasileiro de 10,91 milhões de toneladas.

Se temos mais bois, por que não temos mais carne?

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O peso da produtividade

A resposta está na palavra que costuma assombrar a agropecuária brasileira: produtividade. Nos , a pecuária opera com dois diferenciais claros. Primeiro, os animais chegam ao abate mais jovens. Segundo, eles atingem um peso de carcaça bem maior que os brasileiros.

Segundo Hyberville Neto, da HN Agro, o modelo americano reduz drasticamente o tempo de recria. Enquanto no Brasil os animais passam anos no pasto antes de irem para o confinamento, nos EUA o caminho é direto. Resultado: abates mais rápidos, maior giro de rebanho e, principalmente, mais carne por animal abatido.


O boi que engorda mais rápido

O tempo médio de abate ajuda a explicar. No Brasil, a idade de abate gira entre 3 e 4 anos. Já nos Estados Unidos, esse ciclo é reduzido quase pela metade: de 18 a 24 meses. A diferença é brutal. Além disso, o peso médio das carcaças americanas supera o brasileiro, ampliando ainda mais o contraste.

É um efeito cascata: os americanos abatem menos bois, mas cada um entrega mais carne, o que garante ao país liderança mesmo com um rebanho menor.


DDG: o ingrediente que pode virar o jogo

Esse tema foi destaque no Minerva Foods Day (BEEF3), encontro que reuniu especialistas do setor. Lá, um dos pontos mais comentados foi o uso do DDG (Grãos Secos de Destilaria), subproduto da produção de de milho que se tornou um aliado poderoso da pecuária americana.

Para Alexandre Mendonça de Barros, consultor da MB Agro e conselheiro da Minerva, o DDG não explica sozinho a diferença, mas é um divisor de águas quando se olha para eficiência. O motivo é simples: ele acelera o ganho de peso. Com o uso do DDG, um boi pode passar de um ganho diário de 400 gramas para até 1,6 kg. Essa aceleração na terminação do gado aproxima o Brasil da performance americana, mas ainda é restrita a uma parcela da pecuária nacional.


Gargalos que travam o Brasil

A esbarra em entraves antigos. A infraestrutura precária eleva custos logísticos, a baixa taxa de confinamento limita o uso de nutrição intensiva e as diferenças regionais mantêm grande parte do rebanho em pastagens extensivas, com baixo aproveitamento produtivo.

Enquanto isso, os EUA contam com um modelo integrado: confinamentos em larga escala, logística eficiente e uso massivo de tecnologia de precisão. É isso que garante aos americanos mais carne com menos bois.


O que isso significa para o mercado?

Essa discrepância não é apenas uma curiosidade estatística. Ela impacta diretamente a competitividade global da . O Brasil consegue exportar volumes imensos, mas com margens menores. Os EUA, mesmo com um rebanho reduzido, conseguem capturar mais valor, consolidando sua força no .

Para , o recado é claro: há um enorme espaço de ganhos de eficiência no Brasil. A adoção de tecnologias como o DDG e o avanço no manejo nutricional podem transformar produtividade em resultados mais robustos. Até lá, o país continuará sendo o gigante do gado, mas não necessariamente da carne.


Competitividade global da carne brasileira

O Brasil pode até ostentar o segundo maior rebanho bovino do planeta, mas ainda falta traduzir quantidade em qualidade. Enquanto isso, os Estados Unidos seguem mostrando que o segredo está em produzir mais com menos.

A pergunta que fica é: quando o Brasil vai transformar seu potencial em liderança efetiva na carne bovina mundial?

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