O Banco do Brasil (BBAS3) realizou, na última quarta-feira (24), seu Investor Day em Nova York, em um momento considerado pelos analistas como um verdadeiro ano de transição para a instituição financeira. Segundo especialistas do BTG Pactual e da XP Investimentos, a performance de 2025 deve ser vista como um “teste de estresse” para a carteira de crédito ligada ao agronegócio, setor que responde por uma fatia significativa dos resultados do banco e que passa por dificuldades devido a choques climáticos, queda das commodities e juros elevados.
Embora os executivos do Banco do Brasil (BBAS3) tenham reforçado a solidez do modelo de negócios diversificado, a percepção é que uma recuperação mais consistente só virá a partir de 2026, quando os efeitos de medidas de contenção e ajustes estratégicos devem se refletir nos números.
Investor Day em Nova York reforça visão de estresse em 2025
De acordo com relatório do BTG, a administração do Banco do Brasil destacou que 50% das provisões atuais estão ligadas ao agronegócio. O setor enfrenta pressões causadas pela volatilidade nos preços das commodities agrícolas, pelo aumento de custos de produção e pelo impacto de eventos climáticos adversos no Sul e no Centro-Oeste do país.
Somado a isso, a expansão acelerada da carteira de crédito, que saltou de R$ 150 bilhões para mais de R$ 450 bilhões em apenas três anos, aumentou a exposição do banco ao risco de inadimplência.
No encontro, os executivos ressaltaram que o momento exige cautela e que a prioridade está em ajustar processos internos, reforçar garantias exigidas e aplicar ferramentas de inteligência artificial (IA) para melhor prever riscos e categorizar clientes.
Agronegócio pesa nas provisões e eleva inadimplência
O agronegócio foi o setor mais afetado em 2025, pressionando os resultados do Banco do Brasil. O impacto ficou evidente nos balanços do segundo trimestre, quando o banco registrou alta de 103,8% nas provisões para devedores duvidosos (PDD) em relação ao mesmo período de 2024, saltando de R$ 7,8 bilhões para R$ 15,9 bilhões.
Esse aumento, destinado a cobrir potenciais calotes, provocou uma queda de 60% no lucro líquido, que recuou para R$ 3,8 bilhões no período. O resultado acendeu o alerta de investidores e colocou a ação BBAS3 sob pressão, apesar da resiliência histórica da instituição.
Segundo a presidente do Banco do Brasil, Tarciana Medeiros, a inadimplência observada neste ano “não poderia ser prevista nem nos piores cenários projetados pelos modelos de risco do banco”.
Uso de inteligência artificial e garantias mais robustas
Para enfrentar o cenário adverso, o Banco do Brasil (BBAS3) anunciou uma série de medidas de mitigação. Entre elas, está o uso de uma matriz de resiliência baseada em inteligência artificial, que classifica clientes em quatro categorias distintas e orienta desde a concessão do crédito até o processo de recuperação em caso de inadimplência.
Além disso, o banco passou a exigir garantias mais robustas nas operações, especialmente em hipotecas e alienações fiduciárias. De acordo com Felipe Prince, vice-presidente de Controles Internos e Gestão de Riscos, a exigência de garantias em imóveis passou de 31% para 60% nas safras mais recentes, o que deve reduzir as perdas potenciais.
“Estamos promovendo uma migração gradual do portfólio de hipoteca para alienação fiduciária, fortalecendo a segurança das operações e protegendo o capital do banco”, explicou o executivo.
Projeções de lucro e rentabilidade do Banco do Brasil (BBAS3)
Mesmo em meio às incertezas, o Banco do Brasil manteve a projeção de Retorno sobre o Patrimônio Líquido (ROE) entre 11% e 13% em 2025. Porém, o BTG Pactual é mais cauteloso e projeta ROE de 10,6% no ano, com lucro líquido estimado em R$ 19,7 bilhões, abaixo da meta oficial de R$ 21 a R$ 25 bilhões.
Para atingir o piso da meta, o banco teria de acelerar os resultados no último trimestre, algo que analistas veem com ceticismo. Ainda assim, os executivos confiam que o diversificado portfólio do Banco do Brasil dará sustentação à recuperação futura.
XP e BTG avaliam BBAS3: ponto de inflexão só a partir de 2026
Na visão da XP Investimentos, o Banco do Brasil (BBAS3) encara 2025 como um “ponto de inflexão”, com foco em restaurar a rentabilidade e fortalecer o capital. A corretora ressaltou a estratégia da instituição em expandir o consignado privado, aumentar a diversificação de receitas e acelerar a transformação digital.
Ainda assim, os analistas reforçam que a desaceleração econômica e os juros altos devem continuar pressionando as carteiras de pessoas físicas e pequenas e médias empresas (PMEs), exigindo provisões adicionais.
Por isso, tanto XP quanto BTG mantêm recomendação neutra para as ações BBAS3, com preço-alvo de R$ 23 e R$ 25, respectivamente.
Comparação com pares: Itaú segue melhor posicionado
Em um cenário em que os bancos privados demonstram maior solidez, o Itaú Unibanco (ITUB4) aparece como o player mais bem posicionado em comparação ao Banco do Brasil. Segundo analistas, o Itaú conseguiu atravessar 2025 com crescimento mais consistente, sem exposição tão concentrada no agronegócio e com maior disciplina na concessão de crédito.
Já o Banco do Brasil (BBAS3) segue como uma instituição robusta, mas ainda enfrentando desafios que limitam a visibilidade de curto prazo. O consenso é de que 2026 marcará o início da recuperação mais consistente, com expectativa de melhora gradual nos resultados, redução de provisões e retomada de dividendos mais robustos.
O ano de 2025 ficará marcado como um período de ajustes e resiliência para o Banco do Brasil (BBAS3). Pressionado pela inadimplência no agronegócio e pela necessidade de reforçar provisões, o banco terá de passar por um processo de reorganização e fortalecimento das bases antes de retomar uma trajetória de crescimento sustentável.
Enquanto isso, investidores devem se preparar para um ano de volatilidade e retornos mais modestos, mas com a expectativa de que o ponto de virada aconteça a partir de 2026.