Com o encerramento da temporada de resultados do 2T24, é possível realizar uma análise detalhada do desempenho das empresas brasileiras. Ao observar os números consolidados, excluindo Petrobras e Vale, os resultados mostram um desempenho ligeiramente acima do esperado. A receita, o EBITDA e o lucro líquido superaram as estimativas em 3,1%, 2,3% e 5,3%, respectivamente. No entanto, ao focar apenas nas empresas domésticas, os resultados foram mistos, com a receita e o EBITDA superando as previsões em 2,5% e 3,1%, mas com o lucro líquido ficando 3,8% abaixo do esperado.
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Comparando o desempenho dos resultados do 2T24 com o do mesmo período do ano passado, os resultados gerais foram positivos. A receita consolidada, excluindo Petrobras e Vale, cresceu 10,3% em relação ao ano anterior, enquanto o EBITDA aumentou 21% na mesma base de comparação. No entanto, o lucro líquido apresentou uma leve queda de 1,5%. Em contraste, as empresas de commodities tiveram um desempenho misto, com crescimento de receita e EBITDA de 9,9% e 11,3%, respectivamente, mas uma queda acentuada de 74,6% no lucro líquido.
Desempenho das Empresas Domésticas: Ajustes Contábeis e Resultados Consolidados
Um aspecto importante a ser destacado é a influência dos ajustes contábeis nos resultados de algumas empresas, como Localiza e Rumo. A Localiza registrou um aumento significativo em seu EBITDA, de R$ 385,6 milhões, e um acréscimo de R$ 1,2 bilhão em
seu lucro, devido a uma baixa contábil. Da mesma forma, a Rumo apresentou um aumento no EBITDA de R$ 2,4 bilhões e no lucro líquido de R$ 2,5 bilhões, também por conta de ajustes contábeis. Quando excluímos esses ajustes, o crescimento do EBITDA e do lucro líquido das empresas domésticas é de 15,2% e 18,9% ao ano, respectivamente.
As empresas domésticas, de forma geral, mostraram um forte desempenho anual, especialmente impulsionadas pelo setor de alimentos e bebidas. Neste setor, tanto a JBS quanto a BRF se destacaram.
A JBS, por exemplo, registrou o maior EBITDA em dois anos, juntamente com uma robusta geração de caixa, com um yield anualizado de 24%. Esse desempenho foi sustentado por suas operações na Pilgrim’s e Seara, além de bons resultados na Austrália e no Brasil.
Impacto das Empresas de Alimentos e Bebidas nos Resultados
O setor de alimentos e bebidas foi, sem dúvida, o destaque dos resultados do 2T24. Além de liderar o crescimento em receita e EBITDA, o setor também teve um impacto significativo no lucro consolidado das empresas. Em comparação ao segundo trimestre de 2023, a JBS e a BRF contribuíram substancialmente para o crescimento de receita e EBITDA, com aumentos de R$ 11,2 bilhões e R$ 7,1 bilhões, respectivamente.
O aumento nos preços do petróleo, medido em reais, também beneficiou empresas do setor de petróleo e gás. O preço médio do brent foi de US$ 85 por barril, comparado a US$ 78 no mesmo período do ano anterior, com uma taxa de câmbio de R$ 5,22 por dólar, frente a R$ 4,95 em 2023. Esses fatores ajudaram a impulsionar o desempenho das empresas de petróleo e gás, ainda que de forma menos significativa que as empresas de alimentos e bebidas.
Desempenho Setorial: Variações em EBITDA e Lucros
Em termos de EBITDA, os setores que mais contribuíram para o crescimento foram alimentos e bebidas, com um aumento de R$ 7,1 bilhões, e produtos e serviços de consumo, com um acréscimo de R$ 3,8 bilhões. No entanto, o setor de aviação foi o principal responsável por uma queda no EBITDA, com uma redução de R$ 307 milhões, impactada principalmente pela fraca sazonalidade e pelas enchentes no Rio Grande do Sul, que afetaram a Gol.
No que diz respeito ao lucro líquido, as empresas domésticas também mostraram um desempenho forte, com destaque para os setores de alimentos e bebidas, que registraram um crescimento de 587% em relação ao ano anterior, e o setor bancário, que cresceu 15%. Bancos como Itaú e Santander foram destaques, com crescimentos de R$ 1,3 bilhão e R$ 1,1 bilhão, respectivamente, impulsionados por menores provisões, especialmente no caso do Santander.
Desempenho das Empresas de Commodities e Impacto no Lucro Consolidado
Embora as empresas de commodities tenham apresentado um desempenho decente em termos de receita e EBITDA, o lucro líquido consolidado dessas empresas caiu drasticamente, 74,6%, principalmente devido à volatilidade das taxas de câmbio. Empresas com grandes parcelas de dívida em moeda estrangeira, como as de papel e celulose, foram particularmente impactadas. A Suzano, por exemplo, reportou uma queda significativa de R$ 8,8 bilhões em seu lucro, devido aos resultados financeiros negativos impactados por um real mais fraco.
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Quando excluímos as empresas de alimentos e bebidas, o lucro consolidado, sem Petrobras e Vale, apresentou uma queda de 8,8% em relação ao ano anterior. Por outro lado, o lucro das empresas domésticas, que exclui os setores de commodities, cresceu 18%, demonstrando a resiliência dessas empresas em um ambiente macroeconômico desafiador.
Considerações Qualitativas dos resultados do 2T24
Além dos aspectos quantitativos, é importante considerar as variáveis qualitativas que também influenciam os resultados. No 2T24, 39% das empresas analisadas apresentaram resultados considerados fortes, enquanto 25% ficaram abaixo do esperado. Embora a proporção de resultados fortes tenha se mantido estável em relação ao trimestre anterior, houve uma diminuição na quantidade de resultados fracos, o que sugere uma leve melhora nas condições operacionais.
A diferença aumentou 13 pontos percentuais entre os resultados do 2T24 fortes e fracos, em comparação com 9 pontos percentuais no 1T24 e 11 pontos percentuais no 2T23. Essa melhora qualitativa reflete um ambiente econômico que, apesar das incertezas, está proporcionando oportunidades para empresas bem posicionadas em seus setores.