A quinta-feira (25) entrou para a história da Ambipar como um dos dias mais turbulentos desde seu IPO em 2020. As ações da companhia chegaram a cair mais de 50% intraday, em meio à revelação de uma disputa bilionária com o Deutsche Bank, marcada por contratos de derivativos, exigências de garantias adicionais e suspeitas sobre a governança financeira.
O negócio que explodiu
Segundo documentos levados à Justiça e apuração de veículos do setor, a Ambipar fechou recentemente uma operação de US$ 35 milhões com o Deutsche Bank que envolvia três contratos de derivativos do tipo swap lastreados em greenbonds. Na prática, a exposição saltou para US 550 milhões, abrindo espaço para chamadas de margem (garantias) cada vez mais elevadas.
O Deutsche passou a exigir aportes adicionais, levando a Ambipar a já desembolsar R$ 200 milhões em poucos dias, com cobrança iminente de outros R$ 60 milhões. A situação colocava a empresa diante do risco de disparar cláusulas de cross-default — vencimento automático de toda a dívida, estimada em R$ 10-11 bilhões.
📌 Linha do tempo da crise Ambipar x Deutsche Bank
- 18 de ago./set. 2025 – Ambipar fecha operação de empréstimo de US$ 35 milhões com o Deutsche, junto a contratos de derivativos (swaps) vinculados a green bonds.
- 22 de set. 2025 – Companhia anuncia emissão de R$ 3 bi em debêntures para recomprar títulos e aliviar pressões de caixa. Mercado acende alerta.
- 23 de set. 2025 – Renúncia do CFO João Daniel Piran de Arruda aumenta ruídos de governança e acelera saída de investidores.
- 24 de set. 2025 – Títulos internacionais da Ambipar despencam no mercado secundário, negociados a apenas 13% do valor de face.
- 25 de set. 2025 (manhã) – TJ-RJ concede tutela cautelar protegendo a empresa contra vencimentos antecipados por 30 dias, cobrindo inclusive dívida de US$ 119 milhões com o Santander.
- 25 de set. 2025 (tarde) – Ações AMBP3 entram em leilão sucessivos e chegam a recuar 54% intraday, fechando entre as maiores quedas já registradas na B3.
Governança em xeque
A turbulência também atingiu a alta gestão. Coluna da Veja revelou que o ex-CFO negociou um aditivo contratual diretamente com o Deutsche, sem aval do conselho, alterando a natureza da dívida e agravando o desequilíbrio das contas. A acusação reforça o diagnóstico de ruído de governança que tanto incomoda investidores.
Próximos passos
Com operações espalhadas em mais de 40 países e 23 mil funcionários, a Ambipar tenta transmitir normalidade: atividades seguem em curso, salários e fornecedores em dia, segundo a própria companhia. Mas com um rombo potencial da ordem de R$ 10 bilhões, o processo judicial e a negociação com o Deutsche vão definir se a empresa conseguirá evitar uma recuperação judicial em pleno auge da sua expansão global.