A Ambipar (AMBP3) enfrenta um dos momentos mais delicados de sua história recente. Nesta quinta-feira (25), a Justiça do Rio de Janeiro concedeu ao Grupo Ambipar uma medida cautelar para proteção contra credores, abrangendo a própria companhia, a Environmental ESG Participações e outras afiliadas do conglomerado. O movimento, que pavimenta o caminho para uma possível recuperação judicial, derrubou as ações da empresa em mais de 40%, colocando os papéis em leilão desde a abertura do pregão.
Na sessão anterior, os papéis da Ambipar já haviam tombado mais de 18% na B3, refletindo o crescente pessimismo do mercado diante da situação financeira da companhia. A decisão ocorre após o fraco desempenho dos green bonds emitidos pela empresa no exterior, que resultaram em consequências negativas em operações com derivativos.
Proteção contra credores e risco de recuperação judicial
Segundo comunicado oficial, a Ambipar reconheceu que, neste momento, não possui condições de honrar seus compromissos financeiros. A medida busca evitar que contratos sejam executados de forma antecipada, o que poderia acelerar o colapso da companhia.
O grupo afirmou que pretende manter as atividades em funcionamento, proteger seus ativos e, ao mesmo tempo, negociar uma reestruturação amigável com os credores. Fontes do mercado indicam que a blindagem judicial tem validade inicial de 30 dias, servindo como uma ponte para negociações mais profundas.
Ao fim do segundo trimestre de 2025, a dívida líquida da Ambipar somava quase R$ 6 bilhões, com alavancagem de 2,56 vezes o Ebitda anualizado — um patamar que já vinha preocupando investidores.
Crise de confiança: debêntures, saídas no alto escalão e CVM
Além do pedido de proteção, a Ambipar também anunciou sua sétima emissão de debêntures, no valor de R$ 3 bilhões, destinada a resgatar antecipadamente séries anteriores (EESG13 e AMBP16). A notícia, porém, não acalmou o mercado, que reagiu com forte aversão ao risco.
No alto escalão da empresa, a turbulência é evidente: o CFO João Arruda deixou o cargo após pouco mais de um ano, enquanto o diretor de Relações com Investidores, Pedro Borges Petersen, também apresentou renúncia.
Paralelamente, a Comissão de Valores Mobiliários (CVM) conduz um processo administrativo sancionador contra a companhia, investigando supostas irregularidades em programas de recompra de ações.
Da euforia ao colapso
A Ambipar já foi protagonista de uma ascensão meteórica na bolsa. Entre maio e dezembro de 2024, suas ações saltaram de R$ 8 para R$ 268, impulsionadas por aquisições agressivas do controlador Tércio Borlenghi Junior, programas de recompra e a entrada de fundos ligados a Nelson Tanure e ao Banco Master. O movimento gerou um “short squeeze” histórico em AMBP3.
Contudo, a alta levantou suspeitas. A área técnica da CVM chegou a sugerir que a valorização poderia ter sido inflada artificialmente, indicando que o controlador poderia ser obrigado a realizar uma oferta pública de aquisição (OPA). No entanto, após mudança na presidência da autarquia, a diretoria da CVM rejeitou a proposta, liberando a Ambipar da obrigação. A decisão foi alvo de críticas no mercado.
Perspectivas
O cenário atual coloca a Ambipar em uma encruzilhada. Por um lado, a proteção judicial pode dar fôlego para renegociar dívidas e preservar operações estratégicas. Por outro, a desconfiança dos investidores aumenta, e a credibilidade da empresa no mercado de capitais está gravemente abalada.
Com os papéis em leilão e derretendo mais de 40%, a Ambipar (AMBP3) vive um teste crucial de sobrevivência, que poderá redefinir seu papel no setor de gestão de resíduos e sustentabilidade.