A Ambipar (AMBP3) vive nesta sexta-feira (3) mais um capítulo de sua derrocada no mercado financeiro. Após já ter perdido 60% na sessão anterior, os papéis da companhia despencaram outros 38%, sendo negociados a apenas R$ 1,63 por volta das 11h50. No acumulado de 2025, a queda já soma impressionantes 86%, levando a empresa a níveis de cotação equivalentes a um ano atrás — mas agora sob uma crise de confiança sem precedentes.
A turbulência foi deflagrada por uma série de fatores: a renúncia de diretores-chave, um pedido de proteção contra credores e dúvidas crescentes sobre a real posição de caixa da companhia. Para o mercado, a questão central é se a Ambipar conseguirá resistir ou se caminha para uma recuperação judicial nos próximos meses.
Caixa sob suspeita
O estopim da crise ocorreu após reportagens do Broadcast e do Valor Pipeline questionarem a posição de caixa da Ambipar. Segundo fontes, apenas US$ 80 milhões (cerca de R$ 400 milhões) foram efetivamente localizados, muito aquém dos bilhões divulgados em relatórios financeiros.
O Pipeline destacou ainda movimentações de um FIDC ligado à empresa, que teria captado R$ 1,2 bilhão e reforçado provisões contra calotes. Credores e gestores contestam se tais recursos podem ser contabilizados como “caixa líquido”, já que se tratariam de créditos a receber — e não dinheiro disponível.
Um gestor ouvido pelo Money Times avaliou que, se confirmado que o caixa efetivo caiu de R$ 4 bilhões para algo entre R$ 600 milhões e R$ 1,8 bilhão, cláusulas contratuais de dívida (covenants) podem ser acionadas, levando a uma disputa judicial ampla. Nesse caso, a recuperação judicial seria inevitável, embora a recuperação extrajudicial ainda seja considerada uma alternativa mais rápida e menos danosa.
O embate com o Deutsche Bank
Outro ponto de atrito envolve o Deutsche Bank. Segundo documentos revelados pelo Pipeline, o banco exigiu depósitos adicionais de margem devido à valorização do real frente ao dólar — uma prática comum em contratos de hedge.
O Deutsche Bank argumenta que a Ambipar tinha R$ 4,7 bilhões em caixa reportados no segundo trimestre, e portanto não deveria considerar o pedido como um risco sistêmico. Em nova petição, a instituição pediu autorização judicial para antecipar o vencimento das operações de derivativos.
“O grupo Ambipar tenta criar uma cortina de fumaça. A crise nada tem a ver com as operações de derivativos realizadas com o DBSA”, afirmou o banco em documento oficial.
💰 Quer viver de renda? Baixe agora a Carteira de Dividendos do BTG!
Venda de ativos e alternativas de sobrevivência
Entre as alternativas discutidas no mercado, a venda de ativos é uma possibilidade. No entanto, gestores defendem cautela: vender agora, em meio à crise, poderia reduzir significativamente o valor de mercado da companhia. O ideal, dizem, seria utilizar os ativos como garantias em negociações com credores.
No fim do segundo trimestre, a Ambipar acumulava uma dívida líquida de quase R$ 6 bilhões, com alavancagem de 3,2 vezes o Ebitda anualizado — patamar considerado elevado e insustentável sem geração consistente de caixa.
Governança sob pressão
A trajetória da Ambipar também expõe fragilidades de governança. Desde seu IPO, em 2020, a empresa adquiriu mais de 70 companhias, mas não conseguiu integrar adequadamente os negócios. O resultado foi uma operação altamente alavancada, com baixa eficiência e lucros instáveis.
Fontes de mercado afirmam que a Ambipar foi construída sobre uma narrativa forte — ser uma multinacional brasileira com apelo ESG e liderança no setor ambiental — mas pecou na execução. “Os pilares da tese — governança, operação e finanças — ruíram juntos”, disse um gestor.
Lições do caso Ambipar (AMBP3)
O analista Ruy Hungria, da Empiricus, classificou o caso como um “alerta clássico” sobre o descolamento entre preço e fundamentos.
“A ação chegou a subir mais de 400% em 2024, enquanto o lucro desabava. Por muito tempo, a Ambipar (AMBP3) foi negociada a mais de 100 vezes o lucro, sem justificativa em geração de caixa. Era questão de tempo para a correção vir — e veio de forma dolorosa”, afirmou.
Segundo ele, a CVM já abriu investigação para apurar as inconsistências. “Infelizmente, muitos investidores foram seduzidos pela narrativa de crescimento acelerado e ignoraram sinais claros de fragilidade”, completou.
A derrocada da Ambipar (AMBP3) é um dos episódios mais marcantes do mercado brasileiro em 2025. A empresa que chegou a ser símbolo de expansão e inovação ESG agora luta pela sobrevivência diante de dúvidas sobre caixa, governança e sustentabilidade financeira.
Para investidores, o caso reforça a importância de avaliar não apenas a narrativa de crescimento, mas também a solidez dos fundamentos — especialmente quando se trata de empresas altamente alavancadas.