O governo argentino aprovou o orçamento da Aerolíneas Argentinas para o exercício fiscal de 2025 com uma novidade significativa: a companhia aérea estatal projeta operar com superávit e sem necessidade de aportes do Tesouro Nacional. A medida foi oficializada nesta quinta-feira (21) por meio da Resolução 1205/2025, publicada no Diário Oficial da União, com assinatura do ministro da Economia, Luis Caputo.
A nova previsão orçamentária foi considerada um marco para a reestruturação financeira da estatal aérea, que historicamente dependeu de recursos públicos para cobrir seus déficits.
Lucro projetado e independência fiscal
De acordo com o Anexo II da resolução, a Aerolíneas Argentinas estima uma receita operacional de ARS 2,52 trilhões para o ano de 2025. As despesas operacionais devem totalizar ARS 2,46 trilhões, resultando em um lucro operacional estimado em ARS 59,1 bilhões.
Com a adição de ARS 98,5 bilhões em recursos de capital e a previsão de ARS 95,1 bilhões em despesas de capital, o resultado financeiro líquido (superávit) projetado é de ARS 35,6 bilhões.
Um dado de destaque é que a rubrica “Transferências Correntes da Administração Nacional” — ou seja, os repasses diretos do Tesouro — está zerada. Isso confirma que a empresa pretende operar sem ajuda estatal direta, um movimento considerado estratégico diante das políticas de ajuste fiscal em curso no país.
Plano estratégico para competitividade e eficiência
O Anexo I da resolução traz os pilares estratégicos que sustentam as projeções financeiras. A empresa aposta no crescimento do tráfego doméstico e internacional, com foco na otimização da frota, aumento da produtividade e redução de custos operacionais.
Além disso, a Aerolíneas pretende fortalecer suas conexões regionais por meio de um “design inteligente de suas redes”, com o objetivo de aumentar a eficiência e reduzir tempo de conexão. Também há expectativa de crescimento expressivo na divisão de cargas, com aumento significativo nas toneladas transportadas.
Nos investimentos, a prioridade será a manutenção dos motores da frota, buscando garantir a disponibilidade operacional e preservar o valor dos ativos da empresa. Segundo a companhia, não está previsto aumento do endividamento interno ou externo em 2025.
Reestruturação do quadro de funcionários e tensão sindical
O plano orçamentário também prevê a manutenção de 10.366 funcionários até o fim de 2025, número ligeiramente inferior ao de 2024. A redução ocorrerá por meio de um programa de aposentadoria voluntária, com a meta de elevar a eficiência operacional sem cortes abruptos.
Apesar das boas projeções econômicas, a empresa enfrenta tensões com sindicatos da aviação civil. Representações como a APLA (Associação de Pilotos de Linhas Aéreas) e a APA (Associação do Pessoal Aeronáutico) vêm realizando assembleias e mobilizações por recomposição salarial, o que já causou interrupções em voos nas últimas semanas.
Um marco para a estatal argentina
Caso os números se confirmem ao longo de 2025, esta será uma das primeiras vezes que a Aerolíneas Argentinas operará com lucro e sem depender do Tesouro Nacional em décadas. O plano foi bem recebido por setores do governo e por analistas do setor aéreo, que veem na medida um passo importante para a recuperação da credibilidade e autonomia da companhia.
Contudo, a sustentação do plano dependerá não apenas da execução financeira, mas também da capacidade de negociação com os sindicatos e da manutenção da estabilidade política e econômica no país.