As ações do BB abriram o pregão desta sexta-feira (15) sob pressão, após a divulgação de resultados que reforçaram a visão cautelosa do BTG Pactual. O Banco do Brasil reportou no segundo trimestre de 2025 um lucro líquido ajustado de R$ 3,8 bilhões, com retorno sobre patrimônio líquido (ROE) de apenas 8,4%. A queda foi drástica: 49% em relação ao trimestre anterior e 65% na comparação anual.
Os números ficaram cerca de 30% abaixo das estimativas tanto do BTG quanto do consenso de mercado. Para piorar, cerca de R$ 750 milhões foram classificados como “não recorrentes” — prática recorrente desde 2014, mas que, neste cenário de queda acentuada do lucro, passou a representar 20% do resultado ajustado.
O lucro líquido contábil (GAAP) foi ainda menor, R$ 3 bilhões, com ROE de 6,8%. Em paralelo, o patrimônio líquido “tangível” caiu 6% no trimestre, para R$ 96,5 bilhões.
Evolução dos principais indicadores do Banco do Brasil
Indicador | 2T24 | 1T25 | 2T25 | Var. Trimestral (T/T) | Var. Anual (A/A) | Observações |
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Lucro Líquido Ajustado (R$ bi) | 10,8 | 7,5 | 3,8 | -49% | -65% | Queda expressiva, resultado 30% abaixo das projeções do mercado e BTG |
ROE Ajustado (%) | 19,0 | 16,5 | 8,4 | -8,1 p.p. | -10,6 p.p. | Retorno sobre patrimônio praticamente cortado pela metade em 12 meses |
Provisões Brutas (R$ bi) | 10,0 | 11,1 | 17,4 | +57% | +74% | Pressão vinda do segmento de empresas e agronegócio |
Inadimplência >90 dias (%) | 3,0 | 3,9 | 4,2 | +0,35 p.p. | +1,2 p.p. | Alta em todos os segmentos, com destaque negativo para veículos e agro para as ações do BB |
Carteira de Crédito (R$ bi) | 1.056 | 1.079 | 1.090 | +1% | +6% | Crescimento modesto, puxado por consignado privado e corporativo |
NII Total (R$ bi) | 22,8 | 22,5 | 24,3 | +7,5% | -2% | Melhora com clientes, mas queda no NII de mercado |
Receita de Tarifas (R$ bi) | 8,9 | 4,69 | 8,8 | +88% | -1% | Recuperação após impacto de novas normas contábeis |
CET1 (%) | 11,3 | 10,97 | 10,97 | Estável | -0,33 p.p. | Expectativa de queda de 100bps em 2026 |
Payout (%) | 42 | 40 | 30 | -10 p.p. | -12 p.p. | Corte visa preservar capital diante do cenário adverso |
Como ler essa tabela
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T/T: comparação com o trimestre imediatamente anterior.
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A/A: comparação com o mesmo trimestre do ano anterior.
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p.p.: pontos percentuais.
Inadimplência e provisões disparam
O relatório do BTG destaca que o maior impacto negativo sobre o lucro veio das provisões para perdas. O volume bruto atingiu R$ 17,4 bilhões, alta de 57% sobre o trimestre anterior e 74% em um ano — 33% acima do que o próprio banco de investimento projetava.
O avanço foi puxado pelo segmento de empresas, com provisões 2,5 vezes maiores que no 1T25, totalizando R$ 4,3 bilhões. O agronegócio, historicamente relevante para o BB, registrou aumento de 51% nas provisões, somando R$ 7,9 bilhões. Já o segmento de pessoa física viu alta de 18%, chegando a R$ 4,8 bilhões.
A inadimplência acima de 90 dias subiu para 4,2%, com piora em todos os segmentos. O portfólio de veículos e a carteira corporativa registraram as maiores deteriorações. No agronegócio, os NPLs atingiram 3,5%, um salto de 217 pontos-base em um ano.
Guidance revisado, mas otimismo em excesso?
Apesar do cenário adverso, o Banco do Brasil reinstaurou seu guidance para 2025, projetando lucro líquido ajustado entre R$ 21 e R$ 25 bilhões. O payout foi reduzido de 40–45% para 30%, e a expectativa de crescimento da carteira de crédito caiu para 3–6% no ano.
Para o BTG, o intervalo projetado já parece excessivamente otimista. Os analistas ressaltam que a base de lucro para o terceiro trimestre é menor que a do segundo e que a recuperação tende a ser lenta, com visibilidade limitada.
Segundo as contas do banco de investimento, assumir o piso do guidance implica um múltiplo P/L de 5,4x e dividend yield de 5,5% — indicadores que, embora atrativos em aparência, não compensam o risco diante do aumento da inadimplência e da queda no patrimônio.
Receita reage, mas não é suficiente para animar
O lado positivo do balanço para as ações do BB foi o crescimento da receita. A carteira de crédito subiu 1% no trimestre, impulsionada por consignado privado e operações corporativas. A margem financeira com clientes avançou 5%, beneficiada por spreads mais altos e maior liquidez.
A recuperação das tarifas de crédito, que haviam sofrido impacto negativo no início do ano por mudanças contábeis, também surpreendeu positivamente, subindo 82% no trimestre. O resultado de gestão de recursos ajudou a receita total de tarifas a superar as projeções em 2,5%.
No entanto, o NII de mercado — ligado a tesouraria e câmbio — caiu 22% no trimestre e 51% no ano, minando parte do avanço nas linhas principais.
Controle de custos não compensa deterioração de indicadores
O BB conseguiu manter as despesas administrativas praticamente estáveis no trimestre, com leve alta anual de 6,5%. Houve melhora no índice de eficiência, que caiu para 27,7% (ante 29,1% no 1T25).
Mesmo assim, o patrimônio líquido total permaneceu praticamente estagnado, e o índice de capital CET1 não se moveu, ficando em 10,97%. Para 2026, a expectativa é de queda de 100 pontos-base nesse indicador devido a mudanças regulatórias.
Por que o BTG segue neutro nas ações do BB
O BTG Pactual manteve a recomendação neutra para as ações do BB. A decisão reflete um conjunto de fatores: lucros em queda livre, alta de provisões, inadimplência disseminada e guidance considerado otimista demais.
O relatório usa uma analogia contundente: a deterioração dos resultados “vem de elevador”, mas a recuperação tende a “subir de escada”. Em outras palavras, a recomposição de rentabilidade deve ser gradual e sujeita a novos choques.
Expectativa de reação negativa no curto prazo
As ações do BB vinham de uma recuperação de 7% em 10 dias, mas o BTG avalia que o mercado pode reagir negativamente à divulgação do balanço. O temor é que, com a base de lucro do 3T mais fraca e o cenário macro incerto, investidores optem por reduzir exposição ao papel.
O preço-alvo do BTG para BBAS3 é de R$ 24, ante cotação atual de R$ 17, o que embute potencial de valorização teórico. Porém, para que esse cenário se materialize, seria necessário um controle mais efetivo da inadimplência e uma recuperação de resultados mais consistente — fatores que, segundo os analistas, ainda não estão no radar de curto prazo.
Cautela é a palavra de ordem
Para investidores que acompanham as ações do BB, a mensagem do BTG é clara: não é hora de se deixar levar por sinais isolados de melhora. A combinação de lucros fracos, provisões recordes, piora nos indicadores de crédito e crescimento tímido da carteira exige prudência.
Enquanto o guidance para 2025 sinaliza confiança da administração, o tom do mercado e dos analistas é de ceticismo. Sem evidências concretas de reversão de tendência, a recomendação neutra se justifica — e reforça que, no atual contexto, proteger capital pode ser tão importante quanto buscar retorno.
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