As ações da Petrobras (PETR3 e PETR4) fecharam em queda acentuada de 7% nesta sexta-feira, 8 de agosto, após a divulgação dos resultados do segundo trimestre de 2025. Apesar do crescimento expressivo na produção de petróleo, o mercado reagiu negativamente aos dados financeiros abaixo das expectativas, especialmente no que diz respeito ao fluxo de caixa e aos dividendos. A forte retração dos papéis reflete uma frustração generalizada com o desempenho financeiro da companhia, e não com sua operação.
Operacional sólido, mas desempenho financeiro decepciona
A XP Investimentos resumiu o resultado como “melhor operacionalmente, pior financeiramente”. O fluxo de caixa livre (FCFE) veio abaixo do esperado, e os dividendos anunciados, de US$ 1,6 bilhão (com yield de 2,1%), ficaram aquém das projeções de mercado, que giravam em torno de US$ 2 bilhões. A frustração com os proventos pesou sobre a cotação das ações da Petrobras, já que o pagamento de dividendos tem sido um fator chave para a atratividade da companhia perante investidores.
De acordo com os analistas Regis Cardoso e João Rodrigues, da XP, o fluxo de caixa operacional foi o principal ponto de preocupação. A empresa entregou US$ 7,5 bilhões no trimestre, enquanto o mercado esperava US$ 8,2 bilhões. Já o Capex (investimentos), de US$ 4,1 bilhões, superou os US$ 3,8 bilhões previstos pelo consenso, o que também contribuiu para a leitura negativa dos números.
Reação dos analistas ao balanço da Petrobras
Apesar da queda acentuada nas ações da Petrobras, a recomendação de compra foi mantida por diversas casas de análise, como XP, Itaú BBA e BTG Pactual. Para o BBA, os resultados ficaram alinhados ao consenso, ainda que com um Ebitda ajustado inferior ao do mesmo período de 2024, afetado por preços mais baixos do petróleo Brent e aumento nos custos operacionais.
A avaliação do BBA também destaca que, embora a empresa tenha cumprido sua política de dividendos, os proventos foram decepcionantes. Além disso, o banco alerta para a redução do espaço para dividendos extraordinários em função do atual patamar do Brent e do aumento do Capex.
Já o BTG Pactual chamou a atenção para a elevação da alavancagem financeira, com a dívida líquida atingindo US$ 58,6 bilhões, o que reduz a flexibilidade da empresa. Mesmo assim, o banco destaca que a produção acima do plano de negócios pode gerar revisões positivas de lucro no futuro. Para o BTG, as ações da Petrobras continuam negociando com desconto frente aos pares latino-americanos, o que ainda justifica a recomendação de compra.
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Dados financeiros: expectativa vs. realidade
Confira o comparativo entre os resultados financeiros da Petrobras e as estimativas do mercado:
- Lucro líquido: R$ 26,7 bilhões (vs. R$ 15,07 bilhões esperados)
- Receita líquida: R$ 119,1 bilhões (vs. R$ 111,8 bilhões)
- Ebitda ajustado: R$ 53,257 bilhões (vs. R$ 56,6 bilhões)
- Dividendos: US$ 1,6 bilhão (vs. US$ 2 bilhões)
Apesar do lucro acima das expectativas, o menor Ebitda e os dividendos abaixo do esperado foram os principais vetores negativos para o mercado.
CEO comemora avanço operacional
Em teleconferência com analistas, a CEO da Petrobras, Magda Chambriard, destacou a robustez dos números operacionais. Em julho, a produção de petróleo no Brasil atingiu média de 2,47 milhões de barris por dia (bpd), o que representa um crescimento de 380 mil bpd frente ao trimestre anterior.
“Nós estamos no topo do nosso guidance de produção para o ano. Estamos acelerando as nossas entregas, e vocês são testemunhas disso”, afirmou Magda. Ela destacou ainda que os investimentos estão dentro do previsto e alinhados ao plano estratégico da companhia.
Cotações em queda e desempenho no ano
Por volta das 15h40 desta sexta-feira, os papéis preferenciais PETR4 recuavam 5,2%, cotados a R$ 30,82. Já os ordinários PETR3 apresentavam queda de 7,1%, valendo R$ 33,08. No acumulado de 2025, a desvalorização dos papéis chega a 16,1% e 18,3%, respectivamente.
Apesar da forte correção, o mercado segue atento à consistência operacional da Petrobras e ao potencial de reversão com a recuperação dos preços internacionais do petróleo. A estratégia da companhia de manter dividendos ordinários mesmo diante de pressões financeiras é vista como positiva por alguns analistas, que enxergam no ativo uma oportunidade de médio e longo prazo.
Expectativas futuras e desafios
O futuro da Petrobras dependerá, em grande parte, da estabilidade do mercado de petróleo, da disciplina na execução dos investimentos e da previsibilidade na política de dividendos. Riscos como interferência política, volatilidade cambial e novas regras tributárias seguem no radar dos investidores.
O mercado também acompanhará a conversão de Ebitda em fluxo de caixa nos próximos trimestres. A consistência nesse indicador será crucial para sustentar o apetite do investidor por dividendos e para justificar as recomendações de compra que ainda persistem no mercado.
Em resumo, o segundo trimestre de 2025 trouxe uma mensagem mista ao mercado: operacionalmente sólida, financeiramente aquém. A queda nas ações da Petrobras é reflexo dessa dicotomia — e reforça a importância de um alinhamento entre produção eficiente e retorno financeiro aos acionistas.