Durante a inauguração da nova fábrica da montadora chinesa BYD, em Camaçari (BA), nesta quinta-feira (9), o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) voltou a criticar o Congresso Nacional pela derrubada da Medida Provisória (MP 1.303), que previa novas regras de tributação e substituiria o aumento do IOF.
Lula afirmou que parte dos parlamentares votou contra o interesse do governo em taxar os bilionários e grandes investidores, classificando o episódio como “um dia triste para o país”. Segundo ele, o objetivo do governo era tornar o sistema tributário mais justo, cobrando mais de quem ganha mais.
“Ontem foi triste porque uma parte do Congresso Nacional votou contra a taxação que a gente queria fazer dos bilionários deste país, daqueles que ganham muito e pagam pouco”, declarou o presidente.
“É questão de dias”, diz Lula sobre nova tributação
Lula garantiu que o governo não desistirá de implementar uma nova política de tributação para os super-ricos. O presidente afirmou que o tema voltará à pauta em breve e que o Palácio do Planalto já estuda alternativas legais e políticas para reintroduzir a proposta de forma mais ampla.
“Se um trabalhador pode pagar 27,5%, por que um ricaço não pode pagar 18%? Ainda fizemos um acordo para 12% e eles não quiseram pagar. Eles podem saber que é uma questão de dias: eles vão pagar o imposto que merecem aqui no Brasil, porque o povo trabalhador não vai deixar isso barato”, disse Lula.
A fala foi recebida com aplausos por trabalhadores e aliados presentes no evento da BYD, que marcou o início de operação da montadora no antigo complexo da Ford.
A queda da MP do IOF
A MP 1.303 caducou nesta quarta-feira (8) após não ser votada pelos plenários da Câmara e do Senado dentro do prazo legal. O texto previa a unificação da alíquota de 18% no Imposto de Renda sobre investimentos financeiros, além de ajustes em outros tributos — entre eles, os Juros sobre Capital Próprio (JCP) e a tributação de apostas esportivas online (bets).
A equipe econômica estimava que a MP poderia gerar até R$ 20 bilhões de arrecadação em 2026, ajudando a fechar o orçamento do próximo ano. Com a derrubada da proposta, o governo agora avalia retomar parte da arrecadação por meio de decreto que aumente o IOF e bloquear até R$ 10 bilhões em emendas parlamentares.
O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, afirmou que apresentará a Lula novas alternativas fiscais nos próximos dias, incluindo medidas para reduzir gastos tributários e subsídios.
BYD e novos investimentos no Brasil
A inauguração da fábrica da BYD simboliza o avanço do setor de veículos elétricos no país e faz parte da estratégia de reindustrialização defendida pelo governo.
De acordo com a Secretaria de Comunicação Social (Secom), o investimento total no complexo baiano é de R$ 5,5 bilhões, com previsão de gerar até 20 mil empregos diretos e indiretos.
“A BYD está acreditando no Brasil. O país que queremos é o que atrai empresas que respeitam o meio ambiente, que investem em tecnologia e que ajudam a gerar empregos”, afirmou Lula durante a cerimônia.
O presidente também destacou que a nova planta é um exemplo do potencial da indústria verde brasileira, integrando energia limpa, inovação e sustentabilidade — pilares do Programa Nova Indústria Brasil.
Próximos passos do governo
Nos bastidores, a equipe econômica prepara um pacote de medidas tributárias para substituir parte do conteúdo da MP derrubada, com previsão de envio ao Congresso até o fim de outubro.
O governo busca recompor receitas perdidas e preservar o equilíbrio fiscal, mas tenta evitar novos confrontos com o Legislativo. Apesar da tensão política, Lula reforçou que a justiça tributária continuará sendo prioridade do seu mandato.
“O Brasil precisa deixar de ser o país onde pobre paga imposto de rico e rico não paga nada. É só questão de tempo. Nós vamos mudar essa história”, concluiu o presidente.
