As ações da MRV (MRVE3) despencaram mais de 10% nesta terça-feira (7), após a construtora divulgar sua prévia operacional do terceiro trimestre de 2025 (3T25).
Por volta das 11h18, os papéis da companhia recuavam 10,31%, cotados a R$ 6,44, refletindo a preocupação dos investidores com a geração de caixa e o impacto de mudanças nos repasses de programas habitacionais.
MRV aponta efeitos de atrasos em repasses da Caixa e de programas estaduais
De acordo com o comunicado da construtora, tanto as vendas líquidas quanto a geração de caixa foram diretamente afetadas por fatores externos.
A empresa destacou que as mudanças nos critérios de pagamento da Caixa Econômica Federal (CEF), que passou a reconhecer as transferências de vendas apenas após o registro em cartório, geraram impacto negativo de R$ 31 milhões no trimestre.
Além disso, houve um atraso adicional de R$ 93 milhões nos repasses de programas estaduais e municipais de habitação popular.
A MRV estima que, sem esses efeitos pontuais, teria gerado R$ 123 milhões de caixa no período.
Nos Estados Unidos, sua subsidiária Resia registrou leve queima de caixa de US$ 1,5 milhão, um número considerado estável, mas que ainda não indica recuperação.
Analistas veem dados fracos e alertam sobre alavancagem
A reação negativa do mercado foi reforçada pelas avaliações de grandes instituições financeiras.
O Goldman Sachs classificou os resultados como neutros a levemente negativos, destacando que, apesar da menor queima de caixa, os números não devem aliviar as preocupações com a alavancagem da empresa — um dos principais pontos de atenção para o mercado.
Para o Itaú BBA, os dados operacionais do trimestre foram “fracos”, com vendas sólidas, mas fluxo de caixa ainda instável.
A instituição observou que a velocidade de vendas consolidada foi de 21%, o que mostra resiliência na demanda, mas ressaltou que a queima de caixa persistente em todos os segmentos indica desafios operacionais e atrasos nas transferências dos programas habitacionais.
O Bradesco BBI também classificou a prévia como ligeiramente negativa, argumentando que o fluxo de caixa permanece volátil e sujeito a fatores externos, como mudanças nas regras da Caixa e atrasos de subsídios estaduais.
Ainda assim, o banco reconheceu um ponto positivo: a geração líquida de caixa com as vendas do portfólio permaneceu estável, sinalizando que a operação central da MRV continua funcionando dentro do esperado.
Pressão por melhora no quarto trimestre
Segundo o BBI, o cenário reforça a necessidade de uma melhora consistente no 4º trimestre de 2025, especialmente nos indicadores de geração de caixa, lançamentos e vendas.
A instituição avalia que a MRV vem mostrando progresso gradual no controle da queima de caixa em suas operações no Brasil, mas que o impacto persistente dos atrasos ainda pesa sobre a confiança do investidor.
Já o Morgan Stanley destacou que os números ficaram abaixo das expectativas, com itens não recorrentes pesando sobre a receita e obscurecendo a leitura do desempenho real da companhia.
“Essas distorções tornam difícil enxergar uma recuperação limpa e sustentável. Esperamos que as ações permaneçam em uma faixa limitada até que haja sinais mais claros de reversão”, afirmou o banco em relatório.
Recomendações e preço-alvo para MRV (MRVE3)
Mesmo com o tom negativo da prévia, parte do mercado continua vendo potencial de valorização para MRV (MRVE3).
O Bradesco BBI manteve recomendação de compra, com preço-alvo de R$ 10, o que representa um potencial de alta de mais de 50% em relação à cotação atual.
O banco argumenta que, apesar da pressão de curto prazo, a empresa segue bem posicionada para capturar demanda habitacional no médio prazo, especialmente dentro do programa Minha Casa, Minha Vida.
Já o Goldman Sachs, o Itaú BBA e o Morgan Stanley mantiveram recomendações neutras, com preços-alvo entre R$ 6,50 e R$ 9, citando a necessidade de evidências mais claras de estabilização da geração de caixa e redução da alavancagem.
Avaliação geral do mercado
O consenso entre os analistas é que a MRV segue enfrentando um cenário desafiador de liquidez e pressões regulatórias, mas com demanda ainda firme no segmento de habitação popular.
A principal preocupação está na previsibilidade do fluxo de caixa, que depende diretamente da agilidade dos repasses públicos.
Enquanto isso, o mercado acompanha com atenção a evolução dos programas habitacionais e eventuais ajustes da Caixa Econômica Federal, que podem definir o ritmo de recuperação da construtora no fim de 2025.