O Banco Central (BC) divulgou nesta quinta-feira (25) seu mais recente Relatório de Política Monetária, no qual alerta para a manutenção da Selic em patamar elevado até 2028, diante de uma inflação que tende a permanecer acima do teto da meta por um período prolongado.
Segundo o documento, as projeções para o IPCA — índice oficial de inflação — foram revisadas e agora indicam que a taxa deve permanecer acima do limite superior de 4,5% da meta até o início de 2028. A expectativa reflete a avaliação do BC sobre a persistência de pressões inflacionárias e incertezas no cenário doméstico e internacional.
Projeções do IPCA e manutenção da Selic em 15%
O relatório aponta que o IPCA deve encerrar 2025 em 4,8%, mantendo-se acima do teto da meta. Para 2026, a expectativa é de 3,6%; em 2027, 3,2%; e no primeiro trimestre de 2028, 3,1%.
O Comitê de Política Monetária (Copom) destacou que a Selic — atualmente em 15% ao ano — deverá permanecer neste nível “por um período bastante prolongado”, como forma de garantir a convergência da inflação à meta de 3%, dentro da banda de tolerância de 1,5% a 4,5%.
Em nota, o Copom reforçou a necessidade de manter cautela:
“O cenário atual, marcado por elevada incerteza, exige cautela na condução da política monetária”, afirmou o comitê.
Tabela: Projeções do IPCA e Selic segundo o Banco Central
Ano | IPCA Projeção (%) | Meta (%) | Selic Projeção (%) |
---|---|---|---|
2025 | 4,8 | 3,0 | 15,0 |
2026 | 3,6 | 3,0 | 12,38 |
2027 | 3,2 | 3,0 | — |
1º Tri 2028 | 3,1 | 3,0 | — |
Riscos e incertezas aumentam probabilidade de estouro da meta
De acordo com o relatório, o risco de a inflação ultrapassar o limite superior de 4,5% da meta subiu de 68% para 71% em 2025. Para 2026, essa probabilidade permanece em 26%.
O BC reforça que essa estimativa não representa automaticamente o descumprimento do regime de metas, que ocorre apenas se a inflação acumulada em 12 meses ficar acima do teto por seis meses consecutivos.
O IPCA acumulado em 12 meses até junho foi de 5,35%, o que levou o BC a enviar uma carta ao Ministério da Fazenda explicando o não cumprimento da meta no primeiro semestre do novo regime de metas contínuas.
Perspectivas: Selic seguirá elevada até que inflação se estabilize
A autoridade monetária afirma que suas decisões continuarão sendo tomadas com foco no retorno da inflação ao centro da meta. O relatório afirma:
“As decisões do Copom têm colocado a política monetária em patamares significativamente contracionistas, sempre considerando os efeitos defasados da taxa de juros sobre a atividade econômica.”
O crescimento econômico também foi impactado. A projeção do PIB para 2025 caiu de 2,1% para 2%, e para 2026, a previsão é de apenas 1,5%, refletindo os efeitos de políticas internas e externas, como o pacote tarifário dos Estados Unidos.
Política monetária permanecerá restritiva
O Banco Central deixa claro que o ciclo de juros elevados continuará até que haja sinais mais consistentes de desaceleração inflacionária. Com a Selic projetada em 15% até o fim de 2025 e inflação acima da meta até 2028, a perspectiva é de um ambiente de crédito restrito e impacto contínuo sobre o consumo e o investimento.
A próxima reunião do Copom será decisiva para avaliar se novas ações serão necessárias ou se o atual nível da Selic será mantido sem alterações.