Ações do Banco do Brasil (BBAS3) sobem 18% após MP para o agro; ação pode voltar aos R$ 30?

Ações do Banco do Brasil (BBAS3) sobem 18% após MP para o agro. Entenda os impactos, riscos e se o papel pode voltar aos R$ 30.
Banco do Brasil (BBAS3)

O Banco do Brasil (BBAS3) voltou ao centro das atenções do mercado financeiro em setembro de 2025. Após meses turbulentos, com forte queda nos lucros e pressão crescente da inadimplência no agronegócio, as ações da estatal dispararam 18% desde a mínima do ano. O gatilho para essa recuperação veio da Medida Provisória (MP) anunciada pelo federal, que prevê a renegociação de dívidas rurais em condições especiais.

A dúvida que paira entre investidores e analistas é se essa alta representa uma recuperação estrutural ou apenas um alívio temporário para o banco. Afinal, seria possível que voltasse ao patamar de R$ 30?

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O peso do agronegócio e a crise na inadimplência

Durante anos, o agronegócio foi visto como o trunfo do Banco do Brasil, dado seu protagonismo no financiamento do setor. Porém, em 2025, esse pilar virou um problema. A inadimplência, que girava em torno de 1% na carteira de rural, disparou para 3% a 4%.

Essa escalada coincidiu com a implementação da Resolução 4.966, que obrigou os bancos a provisionar não apenas perdas efetivas, mas também perdas esperadas. Para o BB, isso significou um impacto imediato nos resultados: o caiu de R$ 9 bilhões para R$ 4 bilhões, e o ROE despencou de 22% para 8%.

A deterioração também afetou os dividendos. O payout caiu para 30%, reduzindo o dividend yield para 4%, distante dos 10% observados em períodos mais prósperos.


A Medida Provisória: alívio ou adiamento do problema?

Diante do cenário, o governo federal anunciou a MP que libera R$ 12 bilhões para renegociação de dívidas rurais. A medida atende até 100 mil produtores, com condições diferenciadas:

  • Pronaf (agricultura familiar): até R$ 250 mil, com juros de 6% ao ano.

  • Pronamp (médio produtor): até R$ 1,5 milhão, com juros de 8% ao ano.

  • Demais produtores: até R$ 3 milhões, com juros de 10% ao ano, prazo de 9 anos e 1 ano de carência.

A CEO do banco, Tarciana Medeiros, afirmou que a medida pode beneficiar diretamente 48 mil clientes inadimplentes do BB. Apesar de parte dos recursos ser destinada a outras instituições, a executiva vê a MP como catalisadora para acelerar a retomada dos resultados.

“Temos expectativa de que a MP acelere o processo de recuperação. Mas ainda é cedo para medir a velocidade da renegociação”, disse Medeiros.


Banco Central também entra em campo

Além da ajuda do governo, o Banco Central revisou pontos da Resolução 4.966, flexibilizando critérios para reclassificação de empréstimos de longo prazo. Agora, dívidas em atraso podem sair da classificação mais crítica (Estágio 3) se houver comprovação de capacidade de pagamento por 90 dias.

Segundo cálculos do , cerca de R$ 12,5 bilhões da carteira em atraso do BB podem ser reclassificados, o que resultaria em incremento de R$ 2 bilhões por ano na margem financeira e até R$ 1,5 bilhão extra em lucro líquido em 2026.


O que dizem os analistas

Para o mercado, a MP representa um respiro de curto prazo, mas não resolve a questão estrutural da inadimplência rural.

Bruno Komura, da Potenzia Investimentos, alerta que os R$ 12 bilhões não são exclusivos do BB e que parte do problema pode apenas estar sendo adiada:

“No curto prazo, parece que o problema foi reduzido. Mas, no longo prazo, o agronegócio continuará sujeito ao clima e à dos preços de grãos. Não é uma solução definitiva.”

A XP Investimentos, em relatório recente, reduziu o preço-alvo de BBAS3 em R$ 7, citando o ambiente macroeconômico desafiador, com juros elevados e desaquecimento do crédito para pequenas e médias empresas. A recomendação foi mantida em neutra.

O Safra seguiu a mesma linha, apontando fundamentos ainda fracos e alertando para o alto endividamento do agronegócio, embora reconheça que a ação segue barata frente aos pares privados.


Valuation: BBAS3 está barata?

De fato, o Banco do Brasil negocia a 70% de seu valor patrimonial, bem abaixo de concorrentes como Bradesco (110%) e Itaú (190%). Para alguns analistas, como Flavio Conde, da Levante, esse desconto é excessivo e abre espaço para valorização.

Ainda assim, ele reconhece que dificilmente o papel retornará ao pico de R$ 29,76 registrado em maio, pelo menos no curto prazo.

“Não acredito que a ação vá superar os R$ 29,76 tão cedo, mas também parece distante dos R$ 18. Se fechar 2025 perto de R$ 25, já será uma surpresa positiva”, disse Conde.


Riscos políticos no radar

Além do risco de inadimplência, BBAS3 também está exposto a fatores políticos. Um exemplo é a incerteza em torno da Lei Magnitsky, que poderia gerar sanções internacionais ligadas a autoridades brasileiras e, indiretamente, afetar bancos estatais.

Segundo Flavio Conde, qualquer retaliação nesse sentido poderia trazer dias difíceis para a ação, mesmo em um cenário de recuperação operacional.


Perspectivas para 2026

Os analistas projetam que o 3º trimestre de 2025 seguirá fraco, com lucros na faixa de R$ 3 a 4 bilhões. Para voltar ao patamar de R$ 9 bilhões vistos em 2024, seria preciso esperar até o 4º trimestre de 2026, quando se espera um ambiente de juros mais baixos e menor pressão da inadimplência.

O ano de 2026 também será marcado pelas , o que pode trazer volatilidade adicional ao papel. Como destaca Komura, BBAS3 tende a ser influenciado pelo noticiário político, independentemente dos resultados financeiros.

A disparada de 18% em BBAS3 desde a mínima mostra que o mercado reagiu bem às medidas de alívio anunciadas pelo governo e pelo Banco Central. No entanto, trata-se de um fôlego temporário mais do que uma solução estrutural.

Enquanto os fundamentos seguem pressionados pela inadimplência no agronegócio e pela desaceleração econômica, o grande atrativo da ação é seu desconto em relação aos pares privados. Para investidores de longo prazo, pode representar uma oportunidade — mas com riscos consideráveis no radar.

A volta aos R$ 30 parece improvável no curto prazo, mas, em um cenário de recuperação gradual e redução da Selic, não está descartada em um horizonte de dois anos.

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