A Petrobras (PETR4) continua sendo uma das estatais mais observadas pelo mercado financeiro. De um lado, os dividendos bilionários pagos nos últimos anos colocaram a empresa no radar de quem busca renda passiva. Do outro, o temor de que a petroleira repita o tropeço do Banco do Brasil (BBAS3), que recentemente reduziu pagamentos, preocupa investidores.
A dúvida que paira sobre o mercado é clara: até quando os dividendos robustos da Petrobras resistirão diante do petróleo mais barato e da necessidade crescente de investir em novas fronteiras, como a Margem Equatorial?
Petróleo barato limita espaço para dividendos extraordinários
O preço do petróleo Brent é a variável mais sensível para o caixa da Petrobras. Analistas de diferentes casas de research, como Meraki Capital, Empiricus e Genial, projetam valores próximos a US$ 65 em 2026 — bem abaixo da faixa de US$ 75 necessária para abrir espaço a dividendos extraordinários.
“Com o petróleo abaixo de US$ 70, a chance de dividendos além do ordinário praticamente some”, avalia Ruy Hungria, da Empiricus. Gustavo Poladian, da Meraki, reforça que a oferta crescente da Opep e de países fora do cartel deve pressionar preços.
Na prática, os investidores podem esperar apenas os proventos regulares previstos na política da companhia. Ainda assim, mesmo com o cenário desafiador, o yield projetado para os próximos 12 meses deve ficar entre 10% e 13%.
Margem Equatorial: solução de longo prazo, pressão no curto
O grande trunfo da Petrobras para prolongar sua vida útil é a exploração da Margem Equatorial, uma região que se estende por estados do Norte e Nordeste, incluindo a Bacia da Foz do Amazonas.
A expectativa é alta, mas o impacto não será imediato. Segundo Vitor Sousa, da Genial, mesmo que o Ibama libere a licença ainda este ano, seriam necessários de cinco a seis anos para que o primeiro volume comercial de petróleo chegasse ao mercado.
No curto prazo, o movimento tende a pressionar o caixa, já que os investimentos crescem e os dividendos podem ser reduzidos. “Essa redução, porém, não deve ser vista como negativa. Trata-se de um investimento estratégico para prolongar a capacidade da Petrobras de remunerar acionistas por mais uma década”, explica Sousa.
Política de dividendos: até quando dura?
A regra atual prevê distribuir 45% do fluxo de caixa operacional (FCO) descontado o capex. O Bradesco BBI calcula que, se o barril ficar em torno de US$ 60, a política pode ser mantida por três a seis anos. Se cair para US$ 55, esse prazo recua para apenas um a dois anos.
Apesar da pressão, analistas veem espaço para dividendos próximos a dois dígitos no médio prazo. Regis Chinchila, da Terra Investimentos, ressalta que a aprovação da licença da Margem Equatorial teria impacto simbólico imediato, mesmo sem alterar o caixa no curto prazo: “Mostraria que a Petrobras está preparada além do pré-sal, o que pode levar a uma reprecificação positiva das ações”.
Diversificação: oportunidade ou armadilha?
Além do petróleo, a Petrobras estuda investir em etanol, gás de botijão e energias renováveis. A estratégia, no entanto, não empolga parte do mercado.
Para Jayme Simão, do Hub do Investidor, a diversificação tem viés político e pouco retorno. “O core da empresa é a exploração de petróleo. O histórico de diversificação em governos anteriores mostra que a empresa perde eficiência quando tenta abraçar setores fora do seu domínio técnico”, critica.
Poladian, da Meraki, compartilha visão semelhante. Para ele, a entrada no etanol pode acontecer de forma minoritária, mas GLP e energia renovável ainda estão em estágio muito inicial. “O mercado não enxerga ganhos de valor no curto prazo com essas iniciativas”, afirma.
Margem Equatorial pode redefinir o valor de PETR4
Embora ainda esteja no campo das projeções, a Margem Equatorial pode garantir mais de 1 milhão de barris/dia em produção no futuro, segundo estudos preliminares. Ilan Arbetman, da Ativa Investimentos, destaca que explorar petróleo “no quintal de casa” é muito mais simples do que buscar reservas em regiões desconhecidas.
“Não há dúvidas de que a Margem Equatorial pode mudar o jogo para a Petrobras, mas falar em dividendos imediatos é precipitado. O processo de perfuração, declaração de comercialidade e início da produção pode levar até 7 anos”, ressalta.
Petrobras segue barata na bolsa
Mesmo com as incertezas, Petrobras (PETR4) ainda é vista como uma ação atrativa. Negociada a menos de 4 vezes o múltiplo EV/Ebitda, está em patamar considerado descontado em relação a pares globais.
Analistas apontam que a companhia pode continuar entregando dividend yields de dois dígitos no médio prazo, mesmo sem extraordinários. “A ação segue barata e deve continuar como uma das preferidas dos investidores de renda”, afirma Simão.
A Genial, por outro lado, indica a Prio (PRIO3) como alternativa mais agressiva para 2026, com possibilidade de dividendos ainda maiores — até 20% — e valorização expressiva.
Petrobras pode repetir o tropeço do BBAS3?
A fala da CEO Magda Chambriard, de que “quem apostar contra a Petrobras vai perder dinheiro”, é vista com ceticismo por parte do mercado. No entanto, há consenso de que a empresa ainda tem fundamentos sólidos para investidores focados em dividendos.
O risco de um tropeço semelhante ao do Banco do Brasil existe, especialmente se o petróleo continuar em queda e os investimentos exigirem mais caixa. Mas, por enquanto, a política de dividendos segue firme, e os yields de dois dígitos mantêm a atratividade.
Prêmio ou armadilha?
A Petrobras continua em posição de destaque na bolsa brasileira. O investidor de PETR4 ainda pode se considerar em situação mais confortável do que o de BBAS3, mas o futuro dependerá da combinação de três fatores: preço do petróleo, ritmo de investimentos na Margem Equatorial e disciplina na política de dividendos.
Enquanto isso, o mercado segue dividido entre dois cenários: uma estatal que ainda premia seus acionistas com dividendos gordos ou uma companhia prestes a repetir a frustração vivida por quem apostou no Banco do Brasil.