A derrota eleitoral do partido de Javier Milei, La Libertad Avanza (LLA), na província de Buenos Aires provocou forte turbulência no mercado argentino nesta segunda-feira (8). O índice Merval, principal referência da bolsa local, recuava mais de 13% na abertura dos negócios, refletindo a aversão ao risco dos investidores e a crescente incerteza sobre o futuro das reformas propostas pelo governo Milei.
Milei sofre revés político significativo
As eleições regionais, realizadas em 7 de setembro, foram vistas como um termômetro para o pleito nacional de outubro. O resultado surpreendeu: o Partido Justicialista venceu por ampla margem, com 47% dos votos contra apenas 34% obtidos pela LLA, diferença de 13 pontos percentuais que não havia sido prevista nas pesquisas.
Apesar do revés, Milei buscou minimizar a derrota, destacando que os 37% de apoio conquistados pela LLA em âmbito nacional representam um “piso” para o movimento liberal. Ainda assim, analistas afirmam que a perda em Buenos Aires, região estratégica, fragiliza o discurso de continuidade das reformas econômicas.
Mercado reage com pessimismo
A reação negativa foi imediata. O Morgan Stanley retirou a recomendação de compra para ativos argentinos, citando maior risco de descontinuidade das reformas estruturais e dificuldades de acesso ao financiamento externo. Segundo o banco, a tendência é de queda nos retornos de títulos soberanos e maior pressão sobre o câmbio.
O Bradesco BBI, em relatório, previu um “estresse generalizado nos ativos argentinos”, afetando ações, câmbio e bonds. Para a instituição, o risco-país pode ultrapassar os 1.000 pontos-base, enquanto o peso argentino corre o risco de testar o teto da banda cambial.
Perspectivas para os investidores
A incerteza política gera ainda mais volatilidade para os mercados argentinos, que já enfrentam desafios estruturais de inflação alta e dificuldade de financiamento. O Bradesco BBI recomenda cautela e mantém posição “underweight” para ativos locais, aguardando sinais de maior estabilidade política.
Entre as empresas que podem apresentar maior resiliência neste cenário estão Pampa Energía, YPF, Transportadora de Gas del Sur (TGS), IRSA e Grupo Financiero Galicia, menos expostas às oscilações da economia doméstica.
Para Milei, o desafio será reforçar a confiança em seu programa econômico e demonstrar viabilidade política para sustentar as reformas diante de uma oposição fortalecida.