As ações da Petrobras (PETR4) e da Vale (VALE3) estão passando por momentos distintos em 2025, refletindo o frágil cenário global de commodities e os rumos econômicos internacionais. Enquanto os papéis da mineradora estão “de lado”, com alta de apenas 2%, a estatal petrolífera acumula queda de 15% no ano, evidenciando um ciclo de menor apelo para investidores.
Mesmo sob pressão, os ativos ainda chamam atenção pelo potencial de geração de dividendos e múltiplos descontados — mas será que ainda valem a torcida?
Desempenho em queda — e os motivos por trás disso
No caso da Petrobras (PETR4), o principal motor da atual performance negativa é o petróleo: menor demanda global, oferta crescente da Opep+ e reformas dentro da própria estatal. O resultado é um ambiente desfavorável à valorização de ativos ligados ao setor.
Já a Vale (VALE3) sofre com a menor liquidez do minério de ferro e a fraqueza da economia chinesa — principal destino das exportações brasileiras do insumo. Mesmo diante da crise na commodity, a gigante de mineração tem ampliado sua resiliência por meio da diversificação em metais mais estratégicos, como cobre e níquel.
Múltiplos e dividendos chamam atenção
Para o analista Ruy Hungria, da Empiricus, os múltiplos atuais trazem ainda certo conforto. A Vale (VALE3) negocia a cerca de 4× Ebitda, com um yield estimado em torno de 8% — o que reduz o espaço para quedas significativas. Já a Petrobras (PETR4), com múltiplo de lucro de 3,5× e dividend yield na casa dos 12%, segue atrativa para investidores com foco em renda.
Riscos e oportunidades na Petrobras (PETR4)
Apesar dos bons dividendos, o cenário da Petrobras (PETR4) preocupa os analistas. O planejador financeiro Gustavo Moreira alerta para os riscos políticos que podem afetar o ritmo de distribuição de lucros. Arthur Barbosa, da Aware Investments, também destaca a cautela: os dividendos extraordinários foram reduzidos no segundo trimestre de 2025, motivados pelo avanço do Capex, que chegou a US$ 4,4 bilhões.
Mesmo com esse movimento, a companhia deve fechar o ano com foco em eficiência operacional, alavancagem contida e dividendos ainda acima da média do setor — embora com menor magnitude do que nos melhores momentos do ciclo das commodities.
Vale (VALE3): resiliência e diversificação
A Vale (VALE3) vem enfrentando queda de receitas — com a venda de 77,3 milhões de toneladas no 2º trimestre e receita líquida de US$ 8,8 bilhões, 11% abaixo do mesmo período de 2024 —, mas consegue compensar com ganhos de eficiência.
A redução do custo caixa C1 e o bom desempenho dos segmentos de cobre e níquel explicam parte da estabilidade. O banco Aware destaca que a manutenção da remuneração aos acionistas virá por meio de disciplina de capital, avanços em projetos como Capanema e Onça Puma, e um JCP de R$ 1,90 por ação aprovado para setembro.
Commodities devem seguir estáveis
Segundo João Abdouni, da Levante Inside Corp, o cenário é de commodities estáveis: petróleo Brent em torno dos US$ 68 por barril e minério de ferro entre US$ 90 e US$ 100. Nessa lógica, o retorno para investidores virá principalmente via dividendos previsíveis: estimativa de 8% para a Vale e 10% para a Petrobras nos próximos 12 meses.
O cenário de médio prazo, porém, permanece desafiador: excesso de oferta, especialmente na mineração (com novos embarques de Brasil e Austrália), e demanda aquém do esperado da China apontam para um viés moderadamente baixista. No setor petroleiro, o excesso de oferta e a demanda instável nos EUA mantêm os preços pressionados.
Vale continuar acompanhando?
Mesmo com o desempenho aquém do esperado em 2025, as ações da Petrobras (PETR4) ainda merecem atenção de investidores que buscam renda passiva consistente. Os múltiplos descontados, o dividend yield elevado e a capacidade de geração de caixa fazem do papel uma alternativa interessante — desde que esteja alinhado a uma estratégia de longo prazo, com tolerância a volatilidade.