O empresário Daniel Vorcaro está em conversas com Joesley Batista para vender sua participação de 15,18% na Onoclínicas. O movimento pode parecer mais um entre tantos negócios do mercado de saúde, mas chama atenção pelo nome envolvido: um dos controladores da JBS, por meio da holding J&F.
A negociação vem sendo conduzida em sigilo há algumas semanas e envolve mais do que apenas uma fatia da rede de hospitais. A seguradora Kovr, também controlada por Vorcaro, entrou no radar de interesse de Joesley. O que trava os avanços, no entanto, é um pré-requisito inegociável: o desfecho da venda do Banco Master.
Por ora, a proposta está na mesa. Há minuta de contrato sendo desenhada. Mas qualquer avanço só virá quando o impasse jurídico que envolve o Master for resolvido.
Participação na Onoclínicas é alvo de disputa silenciosa
A Onoclínicas, que abriu capital em 2021 e atraiu investidores institucionais de peso, enfrenta agora a pressão do próprio crescimento. Com uma alavancagem considerada alta — a dívida líquida está 4,4 vezes acima do EBITDA — a empresa avalia alternativas para reequilibrar suas finanças.
Entre as opções: aumento de capital com conversão de dívida em ações ou venda de ativos que fogem do seu core business. Neste contexto, a presença de um acionista como Joesley Batista poderia significar não apenas capital novo, mas um redesenho na governança.
Vorcaro, que entrou na companhia com 15,18% das ações via Banco Master, parece disposto a sair da mesa, ou ao menos diluir fortemente sua exposição. Joesley analisa o movimento com cautela.
Bancos, seguros e hospitais: a engenharia do negócio
As conversas entre os dois empresários têm uma condição muito clara: só avançam depois que a venda do Banco Master ao BRB estiver concluída — e com segurança jurídica reconhecida pelo Banco Central. Até lá, não há preço que se discuta.
Uma fonte próxima à negociação resume: “Quanto vale um ativo que pode ser tomado amanhã? Zero”. A frase é dura, mas retrata bem o risco que paira sobre qualquer movimentação envolvendo o Master, que ainda depende de sinal verde do regulador.
Além disso, a seguradora Kovr, outro ativo de Vorcaro, entrou no radar. Com foco em seguros corporativos, ela atrai o interesse de Joesley por complementar a estrutura da J&F, que nos últimos anos tem expandido sua presença fora da indústria de alimentos.
Onoclínicas em xeque: o que está por trás da venda
O ano de 2025 tem sido desafiador para a Onoclínicas. A empresa precisa resolver sua estrutura de capital, cortar gordura e focar no que sabe fazer melhor: tratamento de câncer. Com o IPO de 2021, a companhia usou parte dos recursos para comprar hospitais de perfil mais generalista, tentando concorrer com gigantes como Rede D’Or e Mater Dei.
Mas a estratégia não deu o retorno esperado. Agora, a rede planeja voltar às origens e estuda vender ativos considerados não estratégicos. Um plano de aumento de capital está em discussão e será votado em Assembleia Geral Extraordinária no dia 9 de setembro. A proposta prevê a conversão de debêntures em ações, sem a participação do Goldman Sachs (atualmente com 36% das ações) nem de Vorcaro.
Em outras palavras: os dois maiores acionistas devem ser diluídos. E talvez não por acaso, Vorcaro já procura a porta de saída.
Tabela: Estrutura acionária da Onoclínicas antes da possível transação
Acionista | Participação atual |
---|---|
Goldman Sachs | 36,0% |
Daniel Vorcaro (Master) | 15,18% |
Outros acionistas | 48,82% |
Por que esse negócio importa para o mercado
A entrada de Joesley Batista no capital da Onoclínicas, se concretizada, pode marcar o retorno mais ativo do empresário ao setor de saúde — um ambiente que combina crescimento com desafios regulatórios e operacionais.
Além disso, a movimentação reforça a tese de que a J&F vem diversificando seus ativos de forma silenciosa, mas estratégica. Não é só sobre carne e papel — é sobre consolidar presença em mercados com potencial defensivo e recorrente.
Mas tudo dependerá da liberação do Banco Central para que Vorcaro possa vender o Master. Até lá, há um impasse que nem minuta contratual resolve.
O que vem a seguir
A próxima data relevante é 09/09, quando os acionistas da Onoclínicas se reúnem para decidir os rumos do aumento de capital. Enquanto isso, o Banco Master segue em análise no BC.
Nenhuma das partes envolvidas comentou oficialmente o assunto até agora. Mas fontes com conhecimento direto das conversas são claras: não se trata de uma possibilidade vaga. Existe sim um negócio sendo estruturado. A questão, como sempre no Brasil, é quando e com qual aval.
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