A arrecadação federal registrou um marco histórico em julho de 2025. Segundo a Receita Federal, a soma de impostos, contribuições e demais receitas chegou a R$ 254,2 bilhões, o maior valor já registrado para o mês em 31 anos, desde o início da série histórica em 1995. O montante representa uma alta real de 4,6% em relação a julho de 2024, quando o valor corrigido pela inflação havia sido de R$ 243,1 bilhões.
O desempenho foi impulsionado principalmente pelo aumento do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF), reativado pelo governo em julho após decisão do Supremo Tribunal Federal (STF). A medida havia sido inicialmente suspensa pelo Congresso em junho, mas retornou quase integralmente, afetando operações de câmbio, crédito e títulos mobiliários. Segundo a Receita, apenas a arrecadação com IOF foi R$ 756 milhões superior à de junho do ano anterior.
Além disso, a taxação das apostas esportivas online (bets) também contribuiu para o recorde, gerando R$ 928 milhões em julho. Outra receita relevante veio de uma arrecadação atípica de R$ 3 bilhões associada aos setores de mineração, financeiro e de petróleo, fortalecendo o caixa do governo.
Arrecadação parcial de 2025
No acumulado de janeiro a julho, a arrecadação federal alcançou R$ 1,68 trilhão sem correção e R$ 1,7 trilhão em valores reais, o que representa crescimento de 4,41% frente ao mesmo período de 2024. Trata-se também do maior resultado da série histórica para os sete primeiros meses do ano.
A elevação reflete não apenas o IOF e a taxação das bets, mas também um conjunto de medidas recentes que ampliaram a base tributária:
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Tributação de fundos exclusivos e offshores;
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Mudanças em incentivos fiscais concedidos por estados;
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Retomada da tributação de combustíveis;
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Imposto sobre encomendas internacionais (“taxa das blusinhas”);
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Reoneração da folha de pagamentos;
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Fim de benefícios fiscais para o setor de eventos (Perse).
O peso das novas medidas no caixa da União
O governo aposta nessas medidas para cumprir a meta fiscal de 2025: déficit zero. Ainda que a Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO) permita uma margem de tolerância de até 0,25% do PIB (cerca de R$ 31 bilhões), o Ministério da Fazenda segue otimista. Além disso, R$ 44,1 bilhões em precatórios não entram no cálculo do resultado primário, o que alivia a conta oficial.
Para 2026, a meta é ainda mais ambiciosa: superávit primário de 0,25% do PIB, equivalente a cerca de R$ 31 bilhões. Para alcançar esse objetivo, novas medidas já estão em pauta:
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Aumento da alíquota das bets de 12% para 18% sobre a receita líquida (GGR);
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Elevação da tributação dos Juros sobre Capital Próprio (JCP) de 15% para 20%;
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Tributação de títulos incentivados (LCI, LCA) com alíquota de 5%;
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Regulação da tributação de criptoativos;
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Equiparação da taxação das fintechs às instituições financeiras tradicionais, passando de 9% para até 20% na CSLL.
O que explica o recorde?
Especialistas ouvidos pelo g1 afirmam que o bom desempenho da arrecadação não se deve apenas ao aumento de impostos. A expansão da economia brasileira em 2025 também é um fator relevante. Com maior atividade econômica, crescem simultaneamente o consumo, a produção e, consequentemente, a base de incidência tributária.
Além disso, a Receita Federal destaca que as recentes alterações legislativas tornaram a cobrança mais eficiente, em especial sobre operações de câmbio e crédito. Esse movimento garante uma fonte imediata de receita em um momento em que o governo tenta equilibrar as contas públicas e reduzir a pressão sobre a dívida.
Impactos para a sociedade
A arrecadação recorde mostra capacidade do governo em gerar receita, mas também levanta debates sobre o peso da carga tributária. Enquanto economistas apontam que a estratégia é necessária para estabilizar as contas públicas, setores empresariais criticam a alta nos tributos, alegando impacto direto na competitividade das empresas e no custo para consumidores.
De um lado, o aumento da arrecadação ajuda a garantir o financiamento de programas sociais, investimentos em infraestrutura e o cumprimento da meta fiscal. De outro, eleva custos para empresas e pode gerar efeitos inflacionários indiretos.