Durante grande parte deste ano, a maior criptomoeda do mundo dominou as manchetes ao ultrapassar, pela primeira vez, a barreira dos US$ 100 mil em dezembro. No entanto, um outro ativo acabou surpreendendo ainda mais o mercado: o cacau. Com uma alta de quase 300% desde janeiro, o produto-base da indústria de chocolate tornou-se o investimento que superou o Bitcoin em 2024, atraindo a atenção de investidores e analistas em todo o mundo.
A comparação pode soar estranha num primeiro momento, pois o cacau é uma commodity agrícola, enquanto o Bitcoin é um criptoativo reconhecido pela sua volatilidade e potencial de ganhos explosivos. Mas, ao longo de 2024, a oferta cada vez mais restrita de grãos de cacau, somada à demanda crescente por produtos de chocolate, fez os preços dispararem de cerca de US$ 4.000 para US$ 12.700 por tonelada no mercado futuro. Nem mesmo o bom desempenho do Bitcoin, que saltou de US$ 41 mil para cerca de US$ 106 mil, foi capaz de competir com o retorno excepcional oferecido pelo cacau.
Entenda por que o cacau foi o investimento que superou o Bitcoin em 2024
Para explicar esse movimento, é fundamental observar como a balança de oferta e demanda de cacau se comportou ao longo do ano. A África Ocidental, região responsável pela maior produção mundial do grão, enfrentou condições climáticas extremas, agravadas por secas, ondas de calor acima dos 40°C e problemas estruturais no acesso a fertilizantes. Países como Costa do Marfim e Gana, que costumavam liderar o fornecimento global de cacau, viram suas safras despencarem, criando um desequilíbrio significativo entre oferta e procura.
Ao mesmo tempo, o consumo de chocolate não sofreu grandes reduções. Pelo contrário, diversas indústrias do setor registraram aumento de vendas, especialmente em países emergentes. A China, por exemplo, apresentou crescimento no consumo de derivados de cacau, e países europeus mantiveram sua posição de destaque na produção de chocolates finos. Isso reforçou a competição pelos estoques limitados, empurrando as cotações para níveis históricos.
Já no lado das criptomoedas, o Bitcoin se beneficiou de expectativas positivas em relação ao novo governo norte-americano, liderado pelo presidente eleito Donald Trump, que sinalizou possíveis políticas pró-cripto. Além disso, a aprovação de diversos ETFs de Bitcoin no início de 2024 trouxe maior fluxo de capital institucional para o mercado. O ativo digital valorizou-se, mas não o bastante para acompanhar a escalada dos grãos de cacau, o que consolidou o cacau como o investimento que superou o Bitcoin em 2024.
Fatores climáticos e crise de fertilizantes
A situação dos fertilizantes foi outro ingrediente decisivo na equação do cacau. Após o agravamento do conflito envolvendo a Ucrânia em 2022, as restrições na exportação de insumos agrícolas de países como Rússia e Belarus levaram a escaladas de preço e escassez de produtos. A África Ocidental depende, em grande parte, da importação de fertilizantes, sofrendo intensamente com os aumentos de custo e a logística truncada.
Essa combinação de clima extremo e falta de insumos agrícolas resultou em colheitas menores, porém, com demanda cada vez maior. O fenômeno, inclusive, chamou a atenção de diversas publicações financeiras de renome, incluindo a Bloomberg e o MarketWatch, que destacaram o cacau como o ativo de maior destaque em 2024, acima até mesmo do Bitcoin, que atingiu a marca de US$ 106.500 no pico de dezembro.
A escalada dos preços e o impacto no mercado de chocolate
Como o cacau é o insumo fundamental da indústria do chocolate, os preços em alta acabaram impactando os produtos finais vendidos ao consumidor. Grandes fabricantes mundiais ajustaram suas projeções de custos e já esperam aumentos no valor de chocolates em prateleiras de supermercados para o próximo ano. A perspectiva é de que, enquanto as condições climáticas e o gargalo de fertilizantes persistirem, a commodity continue com preços elevados.
Há quem veja oportunidades de investimento de longo prazo no setor agrícola da região, projetando a modernização de técnicas de plantio e o incentivo governamental para ampliar a produção de cacau. No entanto, qualquer reestruturação deve levar tempo para ser efetivada. Enquanto isso, segundo relatórios, as cotações seguirão pressionadas no mercado futuro, dadas as incertezas sobre a safra de 2025.
Bitcoin e o comparativo de desempenho
A despeito de ter sido “batido” pelo cacau, o Bitcoin não decepcionou seus detentores em 2024. Após iniciar o ano na casa dos US$ 41 mil, a principal criptomoeda do mundo disparou para mais de US$ 100 mil em dezembro, consolidando um retorno de aproximadamente 128%. Parte desse desempenho resultou da entrada de capital institucional, apoiada pelos ETFs recém-aprovados e por um otimismo renovado no setor cripto.
Ainda assim, ao comparar a variação percentual entre o cacau e o Bitcoin, fica clara a superioridade do grão. A commodity praticamente triplicou de valor, enquanto a criptomoeda pouco mais do que dobrou. Para muitos analistas, essa dinâmica reforça a importância de diversificar os investimentos, mesmo quando se trata de classes de ativos aparentemente menos “glamurosas” que o universo das criptos.
Perspectivas para 2025
Para o próximo ano, especialistas apontam que a oferta de cacau seguirá pressionada, sobretudo se as condições climáticas adversas persistirem na África Ocidental. Além disso, a questão dos fertilizantes não foi completamente resolvida, e muitos países africanos ainda lutam contra custos elevados e falta de apoio logístico.